RECICLAGEM
Já não sei dos dias,
já não sei das horas, nem dos meus limites
que se perderam todos no terno ofício
de pensar em ti.
Trago teu sorriso entre meus dedos,
teu olhar em meu rubor
e o teu perfume na memória,
- que os lençóis –
já se recusam a reciclar o tempo:
tão curto, tão louco,
todo rasgado em fantasias.
Basilina Pereira
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
GAVETAS
GAVETAS
O dia me acorda em preto e branco.
Abro a janela e...lá está: o sol,
com todo aquele dourado atrevido,
convidando-me à vida.
Por onde começar? Tantas gavetas...
algumas cheirando a bolor, sinal dos tempos.
Mas, então, já não é hora do descarte,
enterrar de vez aqueles sons
que surgem no meio da noite?
Mas como, se não há outra música para ouvir?
........................
Será? Às vezes, insistimos tanto em quebrar as pedras
e nos esquecemos de adubar as flores.
Basilina Pereira
O dia me acorda em preto e branco.
Abro a janela e...lá está: o sol,
com todo aquele dourado atrevido,
convidando-me à vida.
Por onde começar? Tantas gavetas...
algumas cheirando a bolor, sinal dos tempos.
Mas, então, já não é hora do descarte,
enterrar de vez aqueles sons
que surgem no meio da noite?
Mas como, se não há outra música para ouvir?
........................
Será? Às vezes, insistimos tanto em quebrar as pedras
e nos esquecemos de adubar as flores.
Basilina Pereira
terça-feira, 21 de setembro de 2010
DEVANEIO
Ah! saudade!
Como é bom acariciar o tempo,
momentos distantes, longes dias.
Pensar que o passado pode voltar numa luz,
deslizar sobre o horizonte, qual miragem.
E esses delírios...
que balançam precipícios!
brincam de esconde-esconde,
pegam carona com o vento
Ah! saudade!
Como é bom acariciar o tempo,
momentos distantes, longes dias.
Pensar que o passado pode voltar numa luz,
deslizar sobre o horizonte, qual miragem.
E esses delírios...
que balançam precipícios!
brincam de esconde-esconde,
pegam carona com o vento
e até simulam voo só pra tirar os pés do chão.
A manhã, insistente,
pergunta por minhas asas.
Asas? Não as quero mais, tenho meus versos.
Basilina Pereirasábado, 4 de setembro de 2010
O RISCO
O RISCO
De través, o verde da pedra.
A hora ignora a sua aparência de trilhos,
que viver é algo assim...
...como poetar.
Tem que se achar a palavra
que caiba no contexto
e deixar o RISCO
cumprir sua trajetória.
Basilina Pereira
De través, o verde da pedra.
A hora ignora a sua aparência de trilhos,
que viver é algo assim...
...como poetar.
Tem que se achar a palavra
que caiba no contexto
e deixar o RISCO
cumprir sua trajetória.
Basilina Pereira
AS HORAS
AS HORAS
As horas alimentam-se da compaixão:
COMPAIXÃO
pelos corações que pulsam no ritmo da monotonia;
COMPAIXÃO
por olhares que atravessam o silêncio do jardim,
sem sentir a presença do esplendor que lhes acena;
COMPAIXÃO
dos vultos ocupados, soterrados por paletós e gravatas,
tentando abrir um buraco na tarde
e voar sobre os seus sonhos;
COMPAIXÃO
pelo desejo de fuga dos que marcham sem sair do lugar;
COMPAIXÃO
pelo tempo perdido por quem se esqueceu
da predição da morte;
COMPAIXÃO
...
Basilina Pereira
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A SEMENTE
A SEMENTE
O pensamento é a semente da palavra.
Alguns proliferam:
ganham coragem e voam.
Outros...morrem num olhar.
Basilina Pereira
O pensamento é a semente da palavra.
Alguns proliferam:
ganham coragem e voam.
Outros...morrem num olhar.
Basilina Pereira
AS DUAS PONTAS
AS DUAS PONTAS
O tempo é alento e martírio.
Nunca nos salva de querer mais,
quando o riso vem com asas.
E pesa feito uma vida
quando o longe é só fumaça
e o perto não convence.
Basilina Pereira
O tempo é alento e martírio.
Nunca nos salva de querer mais,
quando o riso vem com asas.
E pesa feito uma vida
quando o longe é só fumaça
e o perto não convence.
Basilina Pereira
SUPERSTIÇÃO
SUPERSTIÇÃO
Agosto já não me assusta.
Ele chega com sua missão de varrer a terra
e plantar sob a sombra das árvores
aquele tapete seco que um dia será pó.
E só.
O sol inchado e amarelo quase geme,
fingindo-se de enfermo e maltratado pelo vento.
Mas eu o ignoro e sigo em frente:
mais dois passos e será setembro.
Basilina Pereira
terça-feira, 13 de julho de 2010
O CORTE
O CORTE
O vento da tarde levou todas as minhas palavras.
Vestiu-se de liberdade e, inexorável,
cortou as raízes dos meus versos
que ensaiavam nascer.
Órfã do que dizer,
embrulhei os sentimentos,
mergulhei no sincretismo do crepúsculo
e ousei...
como quem busca o último suspiro da existência.
Mesmo que o silêncio da hora impere,
que a lembrança esteja turva de saudades
e o verbo desconheça o tempo certo...
- o poema sabe de cor –
que a emoção não se pode conter.
Basilina Pereira
O vento da tarde levou todas as minhas palavras.
Vestiu-se de liberdade e, inexorável,
cortou as raízes dos meus versos
que ensaiavam nascer.
Órfã do que dizer,
embrulhei os sentimentos,
mergulhei no sincretismo do crepúsculo
e ousei...
como quem busca o último suspiro da existência.
Mesmo que o silêncio da hora impere,
que a lembrança esteja turva de saudades
e o verbo desconheça o tempo certo...
- o poema sabe de cor –
que a emoção não se pode conter.
Basilina Pereira
ALÉM
ALÉM
A chama que arde em meus pensamentos
não foi feita para queimar.
Sinto seu fragor e ouço o seu crepitar
no fundo de minhas retinas e choro...
são fagulhas de ousadia
que, de repente, pedem asas sonoras,
bem mais amplas que a liberdade.
Não sei a que posso aspirar mais do que sinto.
Mas quero!
Quero viver o dia seguinte
e inventar um passo que me permita ir além...
mesmo sem voar.
Basilina Pereira
quinta-feira, 3 de junho de 2010
OS AMANTES
OS AMANTES
Como custa passar o tempo
quando o crepúsculo é só uma miragem
e uma boca rubra exala ansiedade.
O inesperado está além do pensamento
e é inútil o desejo que se instala de véspera.
A felicidade também é isto:
uma equação feita de alegria e tormento
que a vida desenha e os amantes cumprem.
Basilina Pereira
domingo, 23 de maio de 2010
AUSÊNCIA
AUSÊNCIA
Meus passos vacilam
na ausência dos teus.
Querem o seu pernoite
na concha do caminho,
a companhia das pegadas
e aquele som macio, que não precisa de voz
pra dizer que está ali.
É esta ausência que me fará voltar.
Basilina Pereira
HIPÓTESE
HIPÓTESE
Se algum eu deixar de te amar,
canta a nossa música,
desembrulha o sol,
e acende uma vela sob a mangueira
onde nossos sonhos germinaram.
Se algum dia tu deixares de me amar,
queimarei o calendário
pra salvar a ilusão do amanhecer
e me postarei sobre teus pés
para que teus passos me levem na lembrança.
Se algum dia deixarmos de nos amar,
saberei que meu instante se perdeu do teu,
o teu sorriso desgarrou do meu
e a orquestra de sonhos que plantamos
não floriu um concerto final.
Basiina Pereira
domingo, 9 de maio de 2010
A TRAMA
A TRAMA
Em ti deposito o meu silêncio:
aquele que protege o teu olhar
na fissura de cúmplice
que abeira o abismo maior
de uma noite suspensa.
Se piso no teu sono,
é que em teu peito quero me aninhar.
Teu ombro me acende os veios trêmulos
e tira todas as dúvidas do lugar,
pra depois deitar teu cheiro
que se espalha ousado pelo ar.
E um berço de horas rege a trama
que o desejo não quer mais ocultar.
Basilina Pereira
O DORSO DA PALAVRA
O DORSO DA PALAVRA
O dorso da palavra me compele
a desvendar o mistério da tarde.
Aquele espaço que é de tempo,
de brisa
e ninguém sabe quanto vento ainda trará.
Se o ouro que transborda vem dos olhos
que garimpam emoções
ou dos versos que escondem o segredo das cores.
No poente, invento nuances até não ter mais tons
para rimar.
E nos sons que ora se abrem ora se fecham
colho mágoas e alegrias
até o poema se mostrar.
Basilina Pereira
TEMPO CONTRÁRIO
E nossos passos, contrafeitos,
deixam-se ir em direções opostas.
Em nossas lembranças,
chamados latentes
de um tempo contrário
onde um ímã que cintilava em nosso olhar
pulsava em forma de encanto.
Hoje, seguem lentos,
como se o peso do tempo
estivesse amarrado em nossas vestes
e não em nossos corações.
Em pequenos lapsos,
ressurgem pegadas outras
que convergem ávidas
para o toque das mãos,
mas como miragem,
o passado voa
e nós, seguimos a pé.
Basilina Pereira
E nossos passos, contrafeitos,
deixam-se ir em direções opostas.
Em nossas lembranças,
chamados latentes
de um tempo contrário
onde um ímã que cintilava em nosso olhar
pulsava em forma de encanto.
Hoje, seguem lentos,
como se o peso do tempo
estivesse amarrado em nossas vestes
e não em nossos corações.
Em pequenos lapsos,
ressurgem pegadas outras
que convergem ávidas
para o toque das mãos,
mas como miragem,
o passado voa
e nós, seguimos a pé.
Basilina Pereira
quarta-feira, 14 de abril de 2010
RECORRÊNCIA
Acordo mais uma vez
após o mesmo sonho:
estou descalça no meio da multidão.
As pessoas me olham em desafio,
como se cobrassem uma adequação.
Sou inadequada: piso direto no chão
e sinto as pedras se movendo sob os pés.
A noite me desafia com seu silêncio.
A falta de palavras inibe o pensamento,
como se a ausência do som
espremesse minhas ideias.
A sensação é de nudez:
uma vida está vulnerável
porque falta uma peça no quebra-cabeça,
este que se insinua no meu sono,
e quando abro os olhos é vazio.
Os ecos da memória estão presos numa caixa,
cuja senha talvez seja a palavra “sapatos”.
Por que preciso deles,
se minha identidade está nas linhas da mão?
Até quando terei de me esconder no vão dos dedos
onde as reprovações não alcançam?
Basilina Pereira
Acordo mais uma vez
após o mesmo sonho:
estou descalça no meio da multidão.
As pessoas me olham em desafio,
como se cobrassem uma adequação.
Sou inadequada: piso direto no chão
e sinto as pedras se movendo sob os pés.
A noite me desafia com seu silêncio.
A falta de palavras inibe o pensamento,
como se a ausência do som
espremesse minhas ideias.
A sensação é de nudez:
uma vida está vulnerável
porque falta uma peça no quebra-cabeça,
este que se insinua no meu sono,
e quando abro os olhos é vazio.
Os ecos da memória estão presos numa caixa,
cuja senha talvez seja a palavra “sapatos”.
Por que preciso deles,
se minha identidade está nas linhas da mão?
Até quando terei de me esconder no vão dos dedos
onde as reprovações não alcançam?
Basilina Pereira
ALTERNÂNCIA
Tenho dois cordões
que controlam meu pensamento:
um avança, o outro recua
e os dois se debatem sobre o ponteiro
que marca sempre a mesma hora.
Enquanto eu ergo os olhos,
uma luz me ultrapassa os cílios
por onde vejo dois faróis:
seus olhos continuam ali, indefinidos.
Se pelo menos houvesse uma fissura
por onde escorresse uma lágrima,
eu saberia...
mas na alternância das sombras,
só esse vinco rugoso
que desconhece
o quanto dói não saber.
Basilina Pereira
Tenho dois cordões
que controlam meu pensamento:
um avança, o outro recua
e os dois se debatem sobre o ponteiro
que marca sempre a mesma hora.
Enquanto eu ergo os olhos,
uma luz me ultrapassa os cílios
por onde vejo dois faróis:
seus olhos continuam ali, indefinidos.
Se pelo menos houvesse uma fissura
por onde escorresse uma lágrima,
eu saberia...
mas na alternância das sombras,
só esse vinco rugoso
que desconhece
o quanto dói não saber.
Basilina Pereira
sábado, 13 de março de 2010
KAMA SUTRA
KAMA SUTRA
O poema é vento ousado
quando o assunto é poesia,
o amor tem que ser versado
seja noite ou seja dia.
Seu compasso busca a lavra,
balança o abraço invertido
e no orgasmo da palavra,
tudo muda de sentido.
Nada pode ser banal:
seu limite é o universo,
vale até rima carnal
nas entrelinhas do verso.
Basilina Pereira
terça-feira, 9 de março de 2010
SÚPLICA
Inspiração,
a ti dirijo-me
toda vez que o sorriso fecha,
a brisa se esconde entre a neblina
e o poema fica travado.
Imploro-te
por um cheiro de guirlandas,
pela cor quente da canela
e por um verso em Ré Menor
que me faça lembrar Beethoven
em sua nona Sinfonia.
Suplico-te:
quando eu for digna desse momento,
que ele seja humilde feito o beija-flor
e grandioso como o entardecer.
Mas que eu esteja lá – em transe –
e nem perceba que a lágrima
às vezes pode ser doce.
Basilina Pereira
Inspiração,
a ti dirijo-me
toda vez que o sorriso fecha,
a brisa se esconde entre a neblina
e o poema fica travado.
Imploro-te
por um cheiro de guirlandas,
pela cor quente da canela
e por um verso em Ré Menor
que me faça lembrar Beethoven
em sua nona Sinfonia.
Suplico-te:
quando eu for digna desse momento,
que ele seja humilde feito o beija-flor
e grandioso como o entardecer.
Mas que eu esteja lá – em transe –
e nem perceba que a lágrima
às vezes pode ser doce.
Basilina Pereira
domingo, 7 de março de 2010
SENSAÇÕES
SENSAÇÕES
Respiro fundo
para ver se alcanço o limite
da sensação que me escapa:
essa incerteza de voz
feito o eco de um grito,
que resvala e volta sem direção.
Confundo-me no ventre da noite:
há palavras que me açoitam
como se de suas asas fossem brotar labaredas
e outras que me acariciam,
sem mais nem menos, apenas para mostrar
que a ausência de luz na face
vai refletir na cor do poema.
Então, busco um sorriso naqueles dias
em que a primavera chegou antes do tempo
e escrevo...mesmo que seja só pra dizer
que há poesia num instante de silêncio.
Basilina Pereira
Respiro fundo
para ver se alcanço o limite
da sensação que me escapa:
essa incerteza de voz
feito o eco de um grito,
que resvala e volta sem direção.
Confundo-me no ventre da noite:
há palavras que me açoitam
como se de suas asas fossem brotar labaredas
e outras que me acariciam,
sem mais nem menos, apenas para mostrar
que a ausência de luz na face
vai refletir na cor do poema.
Então, busco um sorriso naqueles dias
em que a primavera chegou antes do tempo
e escrevo...mesmo que seja só pra dizer
que há poesia num instante de silêncio.
Basilina Pereira
ATAÇÃO
ATRAÇÃO
Minha relação com as palavras
sempre foi de eterno querer:
uma atração meio ousada e avessa,
de desafio secreto e maroto.
Elas me instigam com sua apoteose de sentidos,
confundem-me quando mais preciso ser clara
e se escondem, por vezes,
no branco absoluto da memória.
Mas aí, eu as amo ainda mais:
quero-as o tempo todo em minha boca,
em meus silêncios e até na imaginação.
Eu, sem palavras, sou Sansão sem os cabelos,
a rosa sem seu perfume e uma praia sem verão.
Mas quando, num átimo, nos entendemos,
o meu Olimpo se enche de deuses
e, imbuída de seus poderes, eu faço versos
como quem planta seu suor na terra
para ver brotar a exuberância da semente.
Basilina Pereira
Minha relação com as palavras
sempre foi de eterno querer:
uma atração meio ousada e avessa,
de desafio secreto e maroto.
Elas me instigam com sua apoteose de sentidos,
confundem-me quando mais preciso ser clara
e se escondem, por vezes,
no branco absoluto da memória.
Mas aí, eu as amo ainda mais:
quero-as o tempo todo em minha boca,
em meus silêncios e até na imaginação.
Eu, sem palavras, sou Sansão sem os cabelos,
a rosa sem seu perfume e uma praia sem verão.
Mas quando, num átimo, nos entendemos,
o meu Olimpo se enche de deuses
e, imbuída de seus poderes, eu faço versos
como quem planta seu suor na terra
para ver brotar a exuberância da semente.
Basilina Pereira
quarta-feira, 3 de março de 2010
POSSIBILIDADES
Que minhas portas se abram de mansinho,
Que minhas portas se abram de mansinho,
isentas do sarcasmo e da tristeza,
longe dos ventos que não sejam mensageiros
para que eu possa pressentir a primavera.
Que as janelas descortinem para o vale
onde eu possa vislumbrar o horizonte
e, de carona, seguir a rota do mel
desenhada no contorno dos teus lábios.
Que meus olhos se deleitem com o jardim
e eu colha na quietude das flores
que desabrocham toda noite, entre as estrelas.
Basilina Pereira
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
UM ROSTO
UM ROSTO
No compasso dos seus passos
os meus passos seguem, lassos,
miram a lua - tão longe -
onde a felicidade esconde
o segredo bem maior
que a distância diluída
entre o meu corpo e sua luz.
No compasso dos seus braços
o meu corpo quer o abraço
minha mente quer a estrela
e só se aquieta ao vê-la
cintilando sobre a flor
como uma etapa vencida
feito um rosto frente à cruz.
Basilina Pereira
TABULEIRO VAZIO
TABULEIRO VAZIO
Hoje eu ouvi que o tempo não existe,
que é coisa da imaginação.
Se fôssemos uma árvore, um fóssil,
tudo estaria perfeito:
cada coisa em seu lugar,
não haveria passado nem futuro.
O aqui e agora seria um tabuleiro vazio
à espera...como?
à espera de quê?
se o tempo não passa de invenção dessa categoria de seres
que um dia inventou de pensar?
Basilina Pereira
FATALIDADE
FATALIDADE
Na luz da tarde eu espelho o meu poema.
Quero protegê-lo das rajadas de tristeza
esquecer as perdas
e só tecer versos alegres.
Então me lembro do ciclo da bananeira:
uma vez bordado em frutos é pleno ocaso,
e ninguém se lembra,
ao saborear seu doce fruto,
de que uma vida se fez mel
em pencas douradas de adeus.
Basilina Pereira
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
ESTÁTUA DE SAL
ESTÁTUA DE SAL
Há uma porta que se fecha sobre mim
e no escuro não encontro a encruzilhada.
Meus olhos tentam vislumbrar, em lembranças,
a rota dos vagalumes que em outras eras
servia aos vagabundos.
Mas só pressinto teus olhos me abrasando,
ouço gritos que me navegam sem pudor
e tentam encontrar a saída
onde os poros latejam na total obstrução da luz.
Sinto ainda toda a nudez me castigando a pele,
adensando a noite numa canção de adeus.
As horas brincam de estátua de sal
no convés da minha boca ensandecida
que diz teu nome num disléxico poema
e grita toda a mágoa que a solidão camuflou.
Basilina Pereira
Há uma porta que se fecha sobre mim
e no escuro não encontro a encruzilhada.
Meus olhos tentam vislumbrar, em lembranças,
a rota dos vagalumes que em outras eras
servia aos vagabundos.
Mas só pressinto teus olhos me abrasando,
ouço gritos que me navegam sem pudor
e tentam encontrar a saída
onde os poros latejam na total obstrução da luz.
Sinto ainda toda a nudez me castigando a pele,
adensando a noite numa canção de adeus.
As horas brincam de estátua de sal
no convés da minha boca ensandecida
que diz teu nome num disléxico poema
e grita toda a mágoa que a solidão camuflou.
Basilina Pereira
sábado, 9 de janeiro de 2010
MEUS LAMENTOS
MEUS LAMENTOS
Como tu sabes
vendo silêncios,
compro alegrias
por estas tardes.
Se amanheço,
embrulho os sonhos
que me embalaram;
se a noite chega,
miro as estelas
só elas sabem
dos meus lamentos.
Basilina Pereira
Como tu sabes
vendo silêncios,
compro alegrias
por estas tardes.
Se amanheço,
embrulho os sonhos
que me embalaram;
se a noite chega,
miro as estelas
só elas sabem
dos meus lamentos.
Basilina Pereira
TATEANDO NO ESCURO
TATEANDO NO ESCURO
Persigo o silêncio que ruge
entre minhas idéias avessas.
Fujo de olhos e bocas que me espreitam...
Os pesadelos... esses procuro ignorar,
mas melhor seria se os enfrentasse.
Fecho as cortinas,
recuso-me a ouvir o canto das sereias,
que não me lavam a alma,
nem torna minha nuvem menos densa.
Desconheço o caminho sem pedras
e não encontro o melhor atalho.
Na dúvida, apago a luz
que a escuridão me aguça os sentidos.
Basilina Pereira
Persigo o silêncio que ruge
entre minhas idéias avessas.
Fujo de olhos e bocas que me espreitam...
Os pesadelos... esses procuro ignorar,
mas melhor seria se os enfrentasse.
Fecho as cortinas,
recuso-me a ouvir o canto das sereias,
que não me lavam a alma,
nem torna minha nuvem menos densa.
Desconheço o caminho sem pedras
e não encontro o melhor atalho.
Na dúvida, apago a luz
que a escuridão me aguça os sentidos.
Basilina Pereira
DISPERSÃO
DISPERSÃO
Se me procuro, não acho,
quando me encontro não vejo
a centelha que me move.
Há uma gaveta sem fundo
que sempre me faz voar
pra onde a vida não passa
e os desejos se dispersam.
Longe da voz que demarca
o sentido das palavras,
posso ser qualquer de mim:
a que chora, a que canta
e a que nunca entendi.
Basilina Pereira
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
SE O POETA AMA
Sou feita de sonho:
nesgas recolhidas,
imaginação,
rota percorrida
por uma canção.
Sou cheia de vida:
talhada na carne
e solta no vento,
às vezes me invadem
antigos momentos.
Pedaços eu sou:
sou noite, sou dia...
sombrios, luzentes,
colheita tardia
que salva a semente.
Sou estrada onde
a seiva amanhece,
o verso me chama
e o poema nasce
se o poeta ama.
Basilina Pereira
Sou feita de sonho:
nesgas recolhidas,
imaginação,
rota percorrida
por uma canção.
Sou cheia de vida:
talhada na carne
e solta no vento,
às vezes me invadem
antigos momentos.
Pedaços eu sou:
sou noite, sou dia...
sombrios, luzentes,
colheita tardia
que salva a semente.
Sou estrada onde
a seiva amanhece,
o verso me chama
e o poema nasce
se o poeta ama.
Basilina Pereira
INTENTO
Não dispenso nada:
quero minha rede
presa nas estrelas
e a esperança sóbria
pelas madrugadas.
Se a sereia canta
quero sua canção,
se o mar se agita
na arrebentação
isso não me espanta.
Se o templo ruir
sobre os sonhos meus,
dormirei em brumas
que nova utopia
há de me surgir.
Basilina Pereira
A MELHOR PRECE
A brisa que vem da vida
tem perfume de luar,
de canção nunca esquecida,
da emoção de amar.
Não há sensação mais leve
que caminhar sobre o dia,
se o sol lembra o que deve
ser motivo de alegria.
Ah! como tudo floresce
quando o sorriso insiste
em ser sempre a melhor prece
pra refutar o que é triste.
Basilina Pereira
A brisa que vem da vida
tem perfume de luar,
de canção nunca esquecida,
da emoção de amar.
Não há sensação mais leve
que caminhar sobre o dia,
se o sol lembra o que deve
ser motivo de alegria.
Ah! como tudo floresce
quando o sorriso insiste
em ser sempre a melhor prece
pra refutar o que é triste.
Basilina Pereira
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
PERDAS
Vejo meu rosto se fechando na neblina
do tempo que escorre na ladeira;
os olhos se turvando, dia a dia,
pelas lágrimas que descem sem avisar.
O poente já não acende as fogueiras
e as estrelas solitárias se recolhem
ao fim da noite, sem atender aos apelos do luar.
As flores que bordavam meus olhares
quedam-se murchas, já não exalam perfumes.
Os passos lépidos da gazela em plena relva,
só marcam compassos e chamam a escuridão.
Restam-me hoje as palavras e as lembranças
que vagam soltas à procura do poema.
As noites vestem seus sussurros de mistério:
querem orvalho e o brilho dos vagalumes
e eu quero saber onde foi parar o meu brilho
que o espelho recolheu e não devolve.
Basilina Pereira
HÁ SE U TIVESSE
HÁ SE EU TIVESSE...
Há! se eu tivesse um amor
pra acalentar em meu peito,
com todo carinho e jeito
de quem sonhou o impossível...
por certo hoje estaria
de posse do som do vento,
que transforma este momento
em versos à luz do dia.
Há! Se eu tivesse esse amor!
Pouco mais me importaria
além da grande alegria
de abrigar-me em teus braços.
Basilina Pereira
OUTRO BRILHO
OUTRO BRILHO
Tentei reter o instante
que me vi no teu olhar,
mas querer não foi bastante:
ele seguiu, sem parar.
Se o tempo ido não volta,
que faço deste momento,
prendo com laço de solda
junto com meu sentimento?
Ou procuro entre as estrelas
outro brilho diferente?
Com tantas lembranças belas,
posso, sim, viver contente.
Basilina Pereira
Tentei reter o instante
que me vi no teu olhar,
mas querer não foi bastante:
ele seguiu, sem parar.
Se o tempo ido não volta,
que faço deste momento,
prendo com laço de solda
junto com meu sentimento?
Ou procuro entre as estrelas
outro brilho diferente?
Com tantas lembranças belas,
posso, sim, viver contente.
Basilina Pereira
Poesia na Varanda
POESIA NA VARANDA
Minha varanda é berçário
de sonhos, formas e cores,
do canto de passarinhos,
e de diversos odores
que embalo numa rede
tecida só de poesia,
na brisa amena da tarde
colho verso e alegria.
A metáfora vem só:
caprichosa escultura,
e na elipse do verbo
transforma-se em figura
de uma linguagem sutil
qual a cor do entardecer:
quando se olha é azul
e logo outra cor vai ser.
E assim me perco e me acho
no delírio do poema,
entrego-me aos seus caprichos:
sou só um bico de pena.
Basilina Pereira
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