terça-feira, 28 de novembro de 2017

TUDO MOVE UM POETA

Escrever é preciso,
mesmo que a tarde permaneça calada
e a brisa de mau humor.
A tela, não mais a folha, está inquieta:
ela lê a minha alma e, cúmplice,
apalpa a minha imaginação,
acaricia os vértices mais escuros,
pois é lá...lá mesmo...que estão as fendas
por onde o poema poderá escapar.
E sem ferir o sentimento que reluta,
as letras vão se soltando: olham-se
e, no minuto seguinte,
juntam-se em busca da metáfora,
hoje camuflada numa palavra sem volta.

Basilina Pereira


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

DETALHES

As gavetas do tempo não têm chaves,
deixam escapar vestígios
que a memória consegue captar:
a curva do seu braço no tobogã do meu ombro,
o anúncio daquele filme (de novo?)
a ser reprisado  na sessão das dez,
sua risada escandalosa que embrulhava a piada.
Há dias livres de fumaça
que chego a pensar em andorinhas
voltando fora da estação,
mas depois: o mesmo vulto crescendo,
como se a noite abraçasse o dia
e as estrelas quisessem me ofuscar
para não ver o jardim florescer.
Penso num jeito de confundir esses astros,
até me canso de tanto tentar,
esse é um detalhe que ainda não descobri.

Basilina Pereira