segunda-feira, 29 de junho de 2015


DESAFIO MATINAL

Sob a sombra de uma nebulosa
o dia parece não ter nada a dizer.
Aproveita para existir
em sua delicada manhã fria,
sem saber se incentiva o sol
ou acolhe a vontade de permanecer recluso.
O início do burburinho não está longe
e a vida chama para aquecer as cores,
adornar gestos e vozes
para protegê-los das incertezas que ainda dormem
protegidas pelo silêncio da noite.
Lá fora, perigos latejam pelo caminho,
mas os pés sugerem passos:
há sempre um lugar aonde se chegar.

Basilina Pereira

quinta-feira, 25 de junho de 2015


EQUINÓCIO

Aceso no alto da cabeça
o sol canta a canção da vida,
risca a terra em dois hemisfério
para que o mar tenha onde dormir
e nossos olhos, como estrelas do corpo,
possam vasculhar a superfície do tempo
e encontrar o rosto alegre do verão.

Basilina Pereira

sábado, 20 de junho de 2015

RENOVAÇÃO

Abrir a janela, sentir a sensação macia,
como se o mundo se abrisse
e uma espécie de prazer secreto
iluminasse o dia em qualquer direção.
Quase nada tem o poder de renovar
como o cheiro da manhã
e esse chamado urgente do sol
que ofusca as pequenas inquietações.
Ao sentir a vida pulsando
entre um passo apressado e um cenho franzido
a alegria pode chegar numa ponta de nuvem.

Basilina Pereira

quarta-feira, 17 de junho de 2015

O MERGULHO

...e o poema acorda
na tarde morna
engolfado por uma cacofonia de emoções.
Desfaz-se do borrão que o limita
e, imbuído de uma fé estoica,
afasta a melancolia
que ousa sugar a cor dos versos.
Liberto, dissolve os elos
pra mudar a melodia.
O poema não tem escolha
tem que mergulhar na poesia.

Basilina Pereira

GALHOS TORTOS

Onde me levará esta reta
sob tantos galhos tortos?
A beleza de seus traços
só não é maior que o desafio
de mirar o horizonte
e perceber
que é preciso proteger os olhos
para namorar o sol.

Basilina Pereira




terça-feira, 9 de junho de 2015

PERPLEXIDADES

Ainda o espanto
pelos séculos que conservam as mesmas dores
camufladas na semente do homem.

Ainda o susto
pela roda que conduz os pecados novos
em suas engrenagens antigas.

Ainda o sol de antes
a contemplar paisagens, cumes e rios,
impotente ante a miopia do mundo, seja qual for a versão.

Ainda o ódio e o amor,
em palcos duplos sobre o mesmo trilho,
à espera do trem que traga a medida e aponte a direção.

Ainda o tempo
tão lento e tão veloz, na terra e na órbita das estrelas,
reescreve a vida, só não mostra a tradução.

Basilina Pereira


quinta-feira, 4 de junho de 2015

O CAIR DA TARDE

Aguardo o cair da tarde
como quem sabe que o crepúsculo
deriva de uma aquarela singular
e cada minuto exibe o encanto
de uma sinfonia de cores.
Aguardo o cair da tarde
porque ele me trará a noite
onde estrelas brilharão em meus lençóis
e o sol se prepara para o mergulho,
para emergir mais forte
e reacender a chama que piscou somente
para que o abraço fosse mais forte
e a emoção tão eloquente
como o verso que fugiu de algum poema.

Basilina Pereira