sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

VOO SOLO


VOO SOLO

Como pássaro sem ninho,
percorro a gravidade do silêncio,
sustentando a asa que me resta.
À minha frente,
a terra é palco de todas as vozes
que carregam a seiva da liberdade,
 ainda assim, presa
a raízes entrelaçadas no medo de voar só.
É certo que o tempo descolore os sonhos
que se tornam opacos,
à deriva entre as estrelas.
Sem os reflexos do sol,
tento desdobrar-me em versos,
refém desta desta tênue certeza
que corteja a palavra
e sussurra: a outra asa, se foi verdadeira,
permanece invisível, mas indica a direção.


Basilina Pereira

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

TRILHAS

TRILHAS

Eu amanheço encharcada de sonhos
e não sei onde depositá-los
para que a brisa os transforme em faróis
nas vertentes da paisagem.
Este gosto de chuva madura
acende minha pele cansada
e o suor que brota da alma
faz verdejar o contorno das trilhas
onde busco inspiração para mais um dia. 
E no desassossego das horas,
vou plantando estratégias
para me livrar dos espinhos
que não consigo enxergar
e, entre dúvidas e perguntas,
ofereço poemas.
Eles não evitam o dilúvio,
mas abrem comportas
por onde o sorriso pode voar.


Basilina Pereira

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017


É QUASE NATAL

É quase Natal.
A música se entranha nas cores
e junto a tantos sons e nuances
desenha promessas, expõe apelos nas vitrines
para seduzir o lado frágil da emoção.
Sim, é quase Natal.
Falta apenas acionar as marés
que desaguam no sentimento,
resgatam o sentido de (re)nascer no amor
em busca da paz na tribuna dos homens.

Basilina Pereira

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017


MISSÃO DO POETA

É  missão do poeta
vestir as palavras com as cores do arco-íris.
Pegar cada uma no seu momento de espera
e adorná-la com o sentimento purificado,
mesmo que em seu íntimo
ainda resistam algumas fumaças de dor e mágoa.
É missão do poeta cantar as nuances do amor,
ainda que sua rima empobreça o poema
com algumas lágrimas de despedida
e o enevoado da saudade que, vez ou outra,
irrompe no instante inesperado.
É missão do poeta destilar as pedras do caminho
e pintar auroras na dobra de qualquer esquina,
para que cada minuto reforce a certeza
de que é preciso, sim, enxergar flores
até no jardim de ausências.


Basilina Pereira

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

QUISERA

Quisera te encontrar na primavera
num crepúsculo casual feito quimera
e seguir de mãos dadas pelos campos,
 evocando perto e longe os pirilampos.

Sorver as sensações doces e quentes
que percorrem a alma, corpo e mente,
quando a paixão explode em tarde calma
colher o fruto que nasceu da palma.

Quisera te seguir nas tardes tortas,
abrir janelas e fechar as portas,
quando o verão acende os poros, confiante,
e ser tua gueixa, concubina, eterna amante.

Secar tuas lágrimas com a luz do luar,
ser o teu fogo até o inverno passar,
tocar a harpa, se te sentir triste
e descobrir que o outono não existe.

E assim viver contigo toda a vida
numa simplicidade complicada e esquecida
dos amantes que valsaram à luz do dia

sobre as rimas e o encanto da poesia.

Basilina Pereira