terça-feira, 27 de maio de 2008

ATRAÇÃO

ATRAÇÃO Cheiro de mistério impregna minha narinas ensolaradas. Há uma ameaça de nuvem cobrindo meu rosto e o ar quente magnetiza meus olhos e minha mente. Um arrepio me percorre o corpo e as pernas trêmulas atropelam o passo encolhido em sua insegurança momentânea. Sua presença abre uma cratera de medo, prazer e paixão que escorrem pelos poros até o limite da lucidez. Com as mãos molhadas descubro que gente renasce, às vezes. Basilina Pereira

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SEM PREÇO

SEM PREÇO ...um bom filme na tv um horizonte pra se ver uma xícara de café chinelo velho no pé o abraço de um amigo chuva fina e um abrigo olhar o filho dormindo ver o amor chegar sorrindo andar descalço na grama lençóis macios na cama um sorvete de avelã a brisa fresca da manhã uma rede na varanda boa roda de ciranda beija-flor frente à janela e um jantar à luz de velas...
Basilina Pereira

O JARDIM

O JARDIM A gente passa pela vida ora amando ora sofrendo por um amor. Uma vez me perguntaram o quanto eu era feliz amando e como enfrentava os delírios da dor. Respondi que meu jardim era sempre verde, mas muitas vezes não tinha flores. Há quem saiba apreciar o verde e também os que não vivem sem as flores. Eu admiro todas as flores mas aprendi a amar a orquídea. Ela floresce apenas uma vez ao ano. Sua flor é exuberante e seu perfume...ah o seu perfume! Sua floração dura mais tempo que outras talvez para compensar a longa espera. Basilina Pereira
PALAVRA (QUE)BRADA Ás vezes é quase nada só uma noção de sentido, um sentimento doído de uma frase mal falada envolta e jogada ao vento folhas de verdes dormentes que com o vigor da semente dilacerara o sentimento. Relâmpago na madrugada risca o olhar e queima a pele palavra (que)brada fere se não for dimensionada, age qual vela partida com luz própria, feito brasa, queima o sonho e dobra a asa, devora com letra a vida. Basilina Pereira

TARDE DE DOMINGO

TARDE DE DOMINGO A tarde na varanda desafia a minha imaginação. A rede silenciosa e cansada recusa-se a colaborar, esticada em seus punhos de algodão doce. Os pássaros do jardim, em tarde de gala, executam seu pequeno concerto vesperal sob a regência de um colorido bem-te-vi, a percussão do “fogo-apagou”e o coral de inúmeros pardais. Borboletas amarelas desenham círculos entre as orquídeas, pousando aqui e ali em sua jornada simples e óbvia. O vento parece ter se escondido nas cavernas tamanha a quietude das folhas... E eu me sinto parte desse mundo e pergunto a meus pensamentos como semear este momento de paz? Basilina Pereira

sexta-feira, 9 de maio de 2008

AS HORAS

AS HORAS Escuto a linguagem da noite como se buscasse no tempo os sonhos incandescentes que desafiam o tic-tac do relógio. Além do orvalho esquivo que se recusa a regar meus pensamentos despontam lembranças comuns tão mutáveis, mas assim mesmo tão iguais. Na penumbra das horas vagas formas deságuam de meus olhos sem estrelas e seguem o rastro das gaivotas. Procuro a voz no silêncio:presa, ensaio um canto obscuro pra que a brisa retorne com seu eco, mas o som que volta é oco, é pouco. Basilina Pereira

O EIXO

O EIXO Neste mundo aportamos sem mares, sem caravelas, nada diz porque chegamos a este beco de vielas. E o caminho aí começa sem manual de instrução tudo é longe, haja pressa, correm os pés e as mãos. Numa aventura tão ampla o corpo reclama a rede e a alma, às vezes, descampa solitária em sua sede. Uns chegando outros partindo sem saber como e por quê e os degraus vamos subindo pra onde não sei dizer. E o segredo assim persiste além do tempo e da hora há quem nos campos insiste e os que partem sem demora. Cogitam tantos desfechos dessa viagem sem par só não decifram o eixo que faz a roda girar. Basilina Pereira

CAMUFLAGEM

CAMUFLAGEM Não sei se a dor chegou com a tarde ou com o vento que balançou as cortinas do tempo e fez voar a poeira que parecia dormente, camuflada entre os lapsos de silêncio. Ou talvez ela tenha voltado pra espantar o limbo que vivia a escoltar meus pensamentos perdidos entre o resto de memória. O tempo é traiçoeiro. Se por um lado ele eterniza momentos desafiando o muro dos séculos, há o perigo incrustado nos enredos efêmeros quando o corpo e o espírito submissos descuidam da tessitura do veio, fazendo com que a música se apague. São fios de uma mesma meada que tecem o começo e o fim, em descompasso, quando a alma não resiste e sons emaranhados sopram o fogo que torna o horizonte encharcado e escuro como uma explosão nuclear. Sentimentos perdidos, anseios quebrados, por que regressam? Estavam tão bem guardados! Basilina Pereira