terça-feira, 11 de setembro de 2012

CONVERSA COM O MAR

CONVERSA COM O MAR

Sentada na areia
 curvo-me sobre minha própria concha
enquanto nuvens cobrem meu rosto
e o ar magnetiza meus olhos e minha mente.
Meus pensamentos têm nuances de ilusionismo
que confundem a pouca lucidez.
Minha voz, tímida diante das ondas,
pergunta, num sussurro, onde foi parar a canção
que meu peito lançava aos quatro ventos
nas cálidas manhãs de verão, entoando versos
da mais plena afinação?
Tenho medo da resposta,
de que ela venha como um maremoto
e me impeça de sentir o balanço das ondas
afagando o pouco de fantasia que restou
 daqueles antigos olhos de promessa
que um dia inundaram meu coração.
Insisto em perguntar ao mar
se nos lugares por onde andou
acaso ouviu aquelas notas no ar?
E o que ouço é meu próprio silêncio,
sinto aquele cheiro de mistério,
envolto  em noites e maresias
 e um sabor enigmático na garganta,
resquício daqueles beijos
até hoje emoldurados na saudade.
Sob meus pés indecisos, só as espumas
cumprem o seu ritual de ir e vir.

Basilina Pereira


 

domingo, 2 de setembro de 2012

LINHAS DA MÃO

LINHAS DA MÃO

Abro a mão.
Um redemoinho de linhas me olha, taciturno,
como um espelho quebrado.
Tento desentranhar os traços
que se cruzam e se entrelaçam,
bordando o desenho do meu destino,
mas só tenho o ponto de partida, sem chegada.
Quanto mistério se esconde nas entrelinhas
 desta  arquitetura que, dizem,
foi projetada antes do alvorecer.
Eu continuo prisioneira desse enigma...
Vislumbro a sombra do meu roteiro,
detalhes incertos, imprecisos,
que nada dizem.
Comparo, indago, insisto,
só uma teia obscura continua a me desafiar:
quem comanda este roteiro
entre o princípio e o fim?

Basilina Pereira