quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ESTÁTUA DE SAL

ESTÁTUA DE SAL



Há uma porta que se fecha sobre mim


e no escuro não encontro a encruzilhada.


Meus olhos tentam vislumbrar, em lembranças,


a rota dos vagalumes que em outras eras


servia aos vagabundos.


Mas só pressinto teus olhos me abrasando,


ouço gritos que me navegam sem pudor


e tentam encontrar a saída


onde os poros latejam na total obstrução da luz.


Sinto ainda toda a nudez me castigando a pele,


adensando a noite numa canção de adeus.


As horas brincam de estátua de sal


no convés da minha boca ensandecida


que diz teu nome num disléxico poema


e grita toda a mágoa que a solidão camuflou.






Basilina Pereira

sábado, 9 de janeiro de 2010

MEUS LAMENTOS


MEUS LAMENTOS



Como tu sabes


vendo silêncios,


compro alegrias


por estas tardes.


Se amanheço,


embrulho os sonhos


que me embalaram;


se a noite chega,


miro as estelas


só elas sabem


dos meus lamentos.


Basilina Pereira

TATEANDO NO ESCURO


TATEANDO NO ESCURO



Persigo o silêncio que ruge


entre minhas idéias avessas.


Fujo de olhos e bocas que me espreitam...


Os pesadelos... esses procuro ignorar,


mas melhor seria se os enfrentasse.


Fecho as cortinas,


recuso-me a ouvir o canto das sereias,


que não me lavam a alma,


nem torna minha nuvem menos densa.


Desconheço o caminho sem pedras


e não encontro o melhor atalho.


Na dúvida, apago a luz


que a escuridão me aguça os sentidos.


Basilina Pereira

DISPERSÃO



DISPERSÃO



Se me procuro, não acho,


quando me encontro não vejo


a centelha que me move.


Há uma gaveta sem fundo


que sempre me faz voar


pra onde a vida não passa


e os desejos se dispersam.


Longe da voz que demarca


o sentido das palavras,


posso ser qualquer de mim:


a que chora, a que canta


e a que nunca entendi.


Basilina Pereira

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


SE O POETA AMA


Sou feita de sonho:


nesgas recolhidas,


imaginação,


rota percorrida


por uma canção.


Sou cheia de vida:


talhada na carne


e solta no vento,


às vezes me invadem


antigos momentos.


Pedaços eu sou:


sou noite, sou dia...


sombrios, luzentes,


colheita tardia


que salva a semente.


Sou estrada onde


a seiva amanhece,


o verso me chama


e o poema nasce


se o poeta ama.


Basilina Pereira

INTENTO



Não dispenso nada:


quero minha rede


presa nas estrelas


e a esperança sóbria


pelas madrugadas.


Se a sereia canta


quero sua canção,


se o mar se agita


na arrebentação


isso não me espanta.


Se o templo ruir


sobre os sonhos meus,


dormirei em brumas


que nova utopia


há de me surgir.


Basilina Pereira
A MELHOR PRECE

A brisa que vem da vida

tem perfume de luar,

de canção nunca esquecida,

da emoção de amar.

Não há sensação mais leve

que caminhar sobre o dia,

se o sol lembra o que deve

ser motivo de alegria.

Ah! como tudo floresce

quando o sorriso insiste

em ser sempre a melhor prece

pra refutar o que é triste.
Basilina Pereira

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010






PERDAS






Vejo meu rosto se fechando na neblina


do tempo que escorre na ladeira;


os olhos se turvando, dia a dia,


pelas lágrimas que descem sem avisar.


O poente já não acende as fogueiras


e as estrelas solitárias se recolhem


ao fim da noite, sem atender aos apelos do luar.


As flores que bordavam meus olhares


quedam-se murchas, já não exalam perfumes.


Os passos lépidos da gazela em plena relva,


só marcam compassos e chamam a escuridão.


Restam-me hoje as palavras e as lembranças


que vagam soltas à procura do poema.


As noites vestem seus sussurros de mistério:


querem orvalho e o brilho dos vagalumes


e eu quero saber onde foi parar o meu brilho


que o espelho recolheu e não devolve.
Basilina Pereira





HÁ SE U TIVESSE



HÁ SE EU TIVESSE...







Há! se eu tivesse um amor


pra acalentar em meu peito,


com todo carinho e jeito


de quem sonhou o impossível...






por certo hoje estaria


de posse do som do vento,


que transforma este momento


em versos à luz do dia.






Há! Se eu tivesse esse amor!


Pouco mais me importaria


além da grande alegria


de abrigar-me em teus braços.






Basilina Pereira

OUTRO BRILHO


OUTRO BRILHO







Tentei reter o instante


que me vi no teu olhar,


mas querer não foi bastante:


ele seguiu, sem parar.






Se o tempo ido não volta,


que faço deste momento,


prendo com laço de solda


junto com meu sentimento?






Ou procuro entre as estrelas


outro brilho diferente?


Com tantas lembranças belas,


posso, sim, viver contente.

Basilina Pereira



Poesia na Varanda



POESIA NA VARANDA







Minha varanda é berçário


de sonhos, formas e cores,


do canto de passarinhos,


e de diversos odores






que embalo numa rede


tecida só de poesia,


na brisa amena da tarde


colho verso e alegria.






A metáfora vem só:


caprichosa escultura,


e na elipse do verbo


transforma-se em figura






de uma linguagem sutil


qual a cor do entardecer:


quando se olha é azul


e logo outra cor vai ser.






E assim me perco e me acho


no delírio do poema,


entrego-me aos seus caprichos:


sou só um bico de pena.


Basilina Pereira

O PONTO 'Z'


O PONTO “Z”


Procuro um ponto que oscile
entre a tarde e a manhã,
entre o frio e o calor,
entre a casca e a maçã.


Que fique entre aqui e lá,
talvez entre choro e o riso,
no meio de dois segundos:
é tudo de que preciso.


Um ponto que se coloque
entre a coragem e a ousadia
e de carona numa ideia
desafie a utopia.


Mas será que ele existe,
tão delimitado assim:
um átimo entre a razão
e a emoção que existe em mim?


Que desabrocha e aflora
só na presença do amor,
descarta esta que pareço,
busca a outra aonde for.


Seria o tal ponto...”Z”
que alguns dizem que não há?
Sei que existe, com certeza,
é questão de procurar.


Basilina Pereira

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DIVAGAÇÕES SOBRE O SILÊNCIO

DIVAGAÇÕES SOBRE O SILÊNCIO

Dizem que o silêncio fala,
como será sua voz?
Quantas roupagens podemos lhe emprestar?
Quem cala consente, dizem ainda.
Será?
Talvez falte a resposta certa, só isso.
Ás vezes, fogem todas as palavras
que gostaríamos de dizer...
e também de ouvir.
Na calada da noite,
a ausência de som fustiga os pensamentos,
atormenta-os até,
pois que, presos em seu casulo sem cor,
nunca poderão revelar seus segredos.
Também já lhe cunharam de adorno,
feito do mais nobre metal:”silêncio de ouro”!
Em assim sendo, será que ele reluz?
Nada disso me convence.
O silêncio é mesmo o que é:
um hiato entre o pensamento e a palavra,
cada um dá a ele a nuance que quiser.

Basilina Pereira

CUMPLICIDADE

CUMPLICIDADE

Hoje amanheci
com o teu cheiro em minha pele.
Talvez porque dormi no teu sono
e acordei no teu sorriso.
O sonho que me rondou a noite
veio de longe...
dos dias em que não havia sombras
nem lágrimas.
Só cumplicidade no olhar,
música de passos,
abraços
e uma certeza plena de infinito.

Basilina Pereira

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

TINTAS



TINTAS


Meu verso não rima mais.

Cansou de esperar o amor

que me nega seus abraços.

E a lembrança dos seus beijos

vai sumindo na fumaça...

seus passos, com som de música,

já não aduzem esperança

e o brilho dos seus olhos

hoje dorme na distância.

Sozinha no quarto escuro,

junto tintas na saudade

e espalho no poema.



Basilina Pereira

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

CAFÉ DA MANHÃ

CAFÉ DA MANHÃ
Adoro o meu desjejum,
ou será café da manhã?
É com ele que desamasso meu sono,
acaricio os sonhos da véspera,
tiro a poeira dos olhos
e ergo um pedestal para o dia
qua acabou de acordar.
Basilina Pereira

domingo, 3 de janeiro de 2010

DE PEITO ABERTO

DE PEITO ABERTO
Abro a janela.
Há tanta vida lá fora:
luz, pássaros, flores...
e pensar que tem gente se matando,
maldizendo a vida,
lavrando no escuro
a terr aprometida...
por medo
de ncarar o novo dia,
de dar chance à alegria,
de abrir aquela porta,
de buscar o que importa
e enfrentar cada passo com coragem,
porque o longe, de repente, se faz perto
e o futuro acena de peito aberto.
Basilina Pereira

EM SILÊNCIO

EM SILÊNCIO O silêncio é a pedra de sal que resiste aos tremores da alma. Longe das madrugadas, o vento escorre lúbrico e colhe a sensação da chuva que transborda das paixões lunáticas. Só as estrelas descortinam... Seu medo não destrói o medo do escuro, mas transpõe a barreira das lágrimas e, em silêncio, descansa no poema Basilina Pereira