terça-feira, 22 de dezembro de 2009

QUANDO O VENTO SOPRA

QUANDO O VENTO SOPRA
O dia sempre chega, concretizando a luz,
e liberta o tempo que estivera preso em sua hora.
Por vezes é preciso destruir para reconstruir
e, quando o vento sopra, há que se esquecer as mágoas
partir para metas mais tangíveis
ou até inverter o sentido da flecha.
Quem não domina as palavras,
pode procurar a riqueza que se esconde no silêncio...
...intuir que a sabedoria ultrapassa o conhecimento
e crer que a felicidade plena só se alcança pelo amor.
Basilina Pereira

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

NAS ENTRELINHAS

Sonhei fazer um poema
com letras vindas do céu
que contivesse o emblema
desse sorriso - só seu.
Que a mensagem verdaeira
jorrasse nas entrelinhas
retirasse sua canseira,
tristeza, mágoa? Não tinha!
Fossse simples como o dia,
perfeito igual um abraço,
com o enleio da poesia
registrado em cada traço.
Eu sei, não é coisafácil...
o que sinto é meu momento,
pretendo um verso tão grácil
e não consigo. Mas tento!
Basilina Pereira

sábado, 31 de outubro de 2009

FRAGMENTOS

Este mosaico me confunde o tempo todo.
Quando penso que desvendei o quebra-cabeças,
lá vem aquela sensação lacrimosa
e se instala,
pra depois irromper num pranto mudo
de causas tão remotas,
só resgatáveis por léguas de retrocesso.
Já não adianta fechar os olhos
e valer-se da falsa escuridão para negar os vestígios
de todos os fragmentos deixados pelo caminho.
A qualquer momento eles se desencantam
e, como uma música estranha ou uma sombra,
insistem emreclamar seu chão
pra repousar em paz entre as lembranças.
Basilina Pereira

domingo, 18 de outubro de 2009

CANÇÕES AO LUAR

CANÇÕES AO LUAR Aquela música trouxe de volta antigas canções que costumávamos ouvir e dançar. A noite quente, as estrelas fizeram-me flutuar novamente em seus braços, como tantas vezes... ...tantas vezes, ao luar. O silêncio, cúmplice dos anos e guardião, deixou-me adivinhar seu sorriso e sentir o toque de sua mão. Fora do tempo e da vida, flutuei na imensidão do momento e, por um instante, um instante apenas, acreditei de novo que poderia ser para sempre. Basilina Pereira

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

CORAÇÃO MOLDADO

CORAÇÃO MOLDADO Há um coração todo moldado que pensei manter a salvo, mas que nada... está à deriva deste sentimento ingrato, que chora ao cair da tarde e sangra ao nascer do dia. Espalha um clamor ardente no veio escuro da noite e aguarda, com frenesi, o calor de tuas mãos.
Basilina Pereira

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

REBULIÇO DE ALMA

REBULIÇO DE ALMA Guardo ainda aquelas sensações com o mesmo rebuliço de alma. Subversivo momento o que antecedeu o poder da escolha, quase uma convulsão, um impasse de mim mesmo: aceitar a incerteza, a fugacidade do momento e apostar na revoada do amor de um só dia. Nada que não fosse novo... tudo absolutamente imprevisível... e sem tempo para hesitação ou rubores. A pouca luz não escondeu os gestos que, em escalada, inebriaram-se com o cheiro dos lençóis. Há momentos em que o tempo para e...depois de muitos anos, a gente acredita que ele ainda está lá.
Basilina Pereira

ALÉM DO CREPÚSCULO

ALÉM DO CREPÚSCULO Quem é esta flor que irrompe em desalinho feito pássaro na procela? Eu já não a reconheço... Perdi o hábito de pastorear o sentimento que vagava solto em sua frágil felicidade. E eis que, de repente, um tufão... E lá vem ele, aquele descompasso, perdido entre uma batida e outra da velha e cansada emoção. _Flor errante! Quem és tu? Trazes a haste vacilante e a mesma pujança das pétalas, em evidente contraste: sombra e fulgor. Quisera que fosses ainda a metade visível que se reconhece além do crepúsculo e não esta ousadia ingrata que tenta desabrochar e não pode. Basilina Pereira

domingo, 23 de agosto de 2009

EXPECTATIVA

EXPECTATIVA
Estou totalmente pelo avesso. Não sei se assim me faço verdade ou fujo do tempo que não me espera mais. Penso que às vezes é preciso saltar no escuro para não dizer depois que estrada passou e os pés não a seguiram. Como dói a expectativa do tempo que não vivemos: há o medo da volta, o cheiro do mistério, esse pisar em sensações tão intensas e incertas... Quem dera fechar os olhos e vislumbrar todas as chaves na sequência que inventamos. Mas os indícios não revelam onde a ave irá pousar. De certo mesmo, só o momento em que a ousadia consentiu em voar.
Basilina Pereira

sexta-feira, 26 de junho de 2009

TRIBUTO A VÊNUS

TRIBUTO A VÊNUS
O que se faz
quando um fluxo maior que via
decide que é hora da ebulição?
Nem a tarde
com todas as promessas de brisa
é capaz de silenciar o apelo
da fruta que explode em cor
Num convite sensual e abrasante.
Longe ficou o exílio e suas mágoas
e o peito declara que é inaugurada
a hora abissal...
em que o tempo deve parar
para que os corpos, embriagados,
prestem seu tributo a Vênus.
Basilina Pereira

DISFARCE

O amor que valeu nunca morre,
ele até se recolhe
a um estado de latência inofensiva
e permanece obscuro
por quanto tempo durarem as estações.
Mas toda vez que uma música
ou um fato especial
acionar a corda da memória
surgirá um nó infesto na garganta
e um gosto de lágima
a rondar os olhos
pronto a revolver o tempo
tão longe...tão perto e igual.
Como se o sentimento remoto
tivesse vencido as agruras do caminho
e, por disfarce, ficado apenas adormecido
no entreposto da saudade.
Basilina Pereira

terça-feira, 9 de junho de 2009

O QUE RESTOU Remexendo numa velha caixa encontrei um pedacinho do passado: dobrada numa flor estilizada uma folha amarela simples – ela – a carta que não mandei por que mesmo? Já não sei. Só me recordo de outras tantas perfumadas, desenhadas, sempre com o mesmo sinal combinado, bem do lado, símbolo daquele amor. Mas o que não partiu, chegou por outra folha de igual teor... tantos anos, a saudade e o que restou de uma flor. Basilina Pereira
MEU ACERVO
Até já ouvi dizer que sou bonita, será? Com que olhos me apreciam com que siso me avaliam aqueles que só no espelho conseguem alcançar meu brilho? Há bem mais por sob a lente que nem todo olhar de ave é capaz de perceber. Só a refração do sentimento, aquele que emerge das perdas silenciosas e se consolida na quietude do tempo, é capaz de revelar a verdadeira beleza que cultivo em meu acervo.
Basilina Pereira

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O SILÊNCIO O silêncio é ancestral. Nele vivemos as angústias passadas e os medos futuros... Quando ele se quebra nem sempre é a fonte que jorra, não é como descobrir uma mina: espontânea, gratuita, fácil... Impera uma impressão de sufoco apto a impedir o próximo passo nesse deserto de existência muda. E como dói... Basilina Pereira

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ROSA DE PEDRA
Busco consolo nos versos ao derramar palavras sobre a vida. Sou qual a rosa de pedra que ali eclodiu e ficou: em aparência. Assim como a casca da árvore tem a sua forma, mas não a essência, vou vivendo da hora não repetida e tentando entender a esperança. Eu coexisto com o oco do sentimento. Procuro fecundar o prazer, fecho os olhos em busca do sorriso incandescente: sangue partido de uma aurora distante. Cato na lua a semente do sonho ela é única em nossa órbita. Serei única também? Basilina pereira

quarta-feira, 25 de março de 2009

REVOADAS
Como um esboço inacabado, vivo em revoadas, o que me salva são meus pensamentos, que transformo em palavras. Porque palavras têm luz... elas revestem aquele murmúrio que desliza por nossas veias até desaguar na foz do mistério de que somos feitos. Não quero questionar a eternidade, só viver da imaginação, esta que disfarço em poesia, porque o poema se faz de coragem ou quem sabe de covardia? ...vez que exala em cada verso um sentimento não resolvido.
Basilina Pereira

sexta-feira, 20 de março de 2009

A DRACULA BELLA
Invejo os cavalos selvagens na sua alegria indócil. A minha liberdade é limitada pelo eflúvio que exala do medo... aquele receio de ser nebulosa e embriagar-me no transe do momento. O mundo é orquestrado na aparência: homens se matam enquanto as flores murcham e grandes segredos perdem-se entre o pensamento e as palavras. Mas eu busco a beleza dos extremos... Lá no fundo da gruta escura, onde o sol é uma lembrança remota a Dracula bella floresce. Basilina Pereira

segunda-feira, 9 de março de 2009

A MULHER QUE SOU
Descrevo a mulher que sou: versátil, fecunda, fluida... não sei bem por onde vou, mas sigo a trilha dos druidas. Falo a linguagem do amor neste terraço do mundo se encontro miséria e dor acelero e vou mais fundo. Sempre tem dias de chuva e de assobio no escuro, mas quem tem mão salva a luva, sonho atrevido é futuro. Nado em audácia e leveza com charme de lua cheia, tem mistérios, com certeza, o que me corre nas veias. Mas como toda mulher sou força que para o vento quem foca o alvo e o quer vai além do pensamento. Basilina Pereira