quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O QUE DIZ O SILÊNCIO

O QUE DIZ O SILÊNCIO

No vértice da palavra ...
a ausência do som é o nó
que trava o sentimento.
A flâmula que se debate ao vento
risca o espaço, quer atravessar a fenda,
embrulha o tempo e, ainda assim,
só o relâmpago de um olhar acuado,
que devora o momento de um só gole.
Tudo está ali e nada se pode ver.
A vontade embebida em gestos contidos
é a folha que o medo engoliu.
E a pedra, que não está no meio do caminho,
mas solta à margem do penhasco. 


Basilina Pereira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

E DEPOIS?


E DEPOIS?

Hoje, meu desejo é desencantar estrelas,
acender as luzes reais,
quebrar todas as regras
e desembaraçar quantos galhos
embarguem o canto dos pássaros.
Não entendo o obstáculo que se funda
em si mesmo,
a visão imediata e única,
desfalcada do depois.
Sinto falta de um além
de uma certeza remota que nos mostre
como reconhecer a fagulha
que vento nenhum pode apagar?
 
Basilina Pereira

domingo, 6 de dezembro de 2015

A ESMO



A ESMO

I
Voar no escuro
contra e a favor do vento
depois tentar entender
o que isso significa.
II
Se ao espremer as palavras
o suco sair deformado
- nada de pânico -
volto ao ponto de partida.
III
Escrevo no ritmo das pulsações,
se vier o verso, colho.
Gosto de viver perigosamente.
IV
Como tudo começou?
Numa noite de vendaval:
o medo era tanto
e a escolha foi acender a luz.

Basilina Pereira



domingo, 29 de novembro de 2015

ENTRE SETAS



ENTRE SETAS


Volta e meia a ideia de amor.
Somente para não esquecer
aquele gosto de estrelas sob a língua
e o cheiro de crepúsculo entre os dedos.
Estranho amor:
Um vidro de loção pelo meio
(e que nunca vai acabar).
O dia era perfeito,
o ar cintilante como os olhos
e o meu jardim pronto para o mel.
Ninguém falou da poeira amarga
nem da fragilidade do sorriso.

Basilina Pereira

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A PROCURA



A PROCURA


Procuro uma estrela
de asa encantada.
Quero saber
se seu brilho acende o deserto
quando o sol,
envolto em brumas,
é apenas uma palavra incandescente.
Procuro uma estrela
que, mesmo apagada,
nunca se esquece do que sempre foi.
E onde a vista não atina em nada
pode ser que ela aponte
para tudo o que procuro.

Basilina Pereira


terça-feira, 24 de novembro de 2015

IGUAL ÀS FLORES



IGUAL ÀS FLORES

Eu queria ser igual às flores
que, além de exalar perfume,
pintam de cor os jardins,
perfazem a saga do mel
e, mesmo depois da queda,
enfeitam o chão do caminho.
Eu queria, sim, ser igual às flores.
Despertar com a alvorada,
quando o homem ainda dorme
e, em essência, é um menino.
Adormecer com o poente,
quando a vida se recolhe:
silêncio e dever cumprido.
Ninguém ataca seu igual,
nem se esconde na mentira.
Vazio? Só de maldade,
ao outro o melhor de mim.

Basilina Pereira