quinta-feira, 31 de agosto de 2017

DIANTE DA PEDRA

DIANTE DA PEDRA

Dobro as lembranças com mãos de seda,
guardo-as onde nenhum pesar as alcança
 e tranco-as: uma...duas...três voltas...
para que não voltem a toda hora,
à revelia de qualquer arpejo.
Minha emoção é de vidro,
mas minha vontade tem a textura do diamante
e ao ser lapidada, na carne e no sentimento,
poderá revelar o brilho
só encontrado na coragem e na esperança.


Basilina Pereira

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

DO QUE É CAPAZ UM POEMA

DO QUE UM POEMA É CAPAZ

Como por magia, um canto colore a tarde
e tenta dissipar toda a tristeza
que habita essa nesga de vida.
Ontem uma sombra bailou sobre as horas
e nenhum pássaro deixou a cavidade do silêncio
para embalar o sorriso
 que perdeu o prumo entre a música e a pedra.
Mas o som de agora chama a alegria
e sugere harmonia no reino do coração.
O ritmo que entoa diz que tudo renasce,
a mágoa ganha contornos de perdão,
e o amor que floresceu neste jardim pode murchar,
mas não o verso que voará com o poema
 nas asas de uma libélula.


Basilina Pereira

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

SONHO

Sonho

Um sonho dentro do sonho:
sorriso de olhos molhados,
uma mão feita de espumas,
outra de arrepio e toque.
A vida marcha sobre o meu corpo,
firme, dura, sem janelas.
O dia acorda as pedras,
os pássaros e outras lembranças,
traz o mar em um concha,
ondas de forte emoção.
É preciso dizer meu segredo:
urge marchar, mesmo sem respostas,
que outra porta não há,
a noite me diz que não.

Basilina Pereira

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

TELÚRICO


TELÚRICO

Um corpo engessado no espelho,
uma alma em queda livre
e todos os erros perdidos entre uivos e mantras
em busca da porta.
As dúvidas se desentendem
e cospem perguntas sem pés nem asas,
só aquela sensação de outono,
com bocas mastigando o silêncio
e o espírito sendo enterrado com vida,
incapaz de entender
de que é feita essa matéria
que se pensou conhecer um dia.


Basilina Pereira

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

PERIGO

PERIGO

A vida é movida a sentimentos
e estes estão, o tempo todo,

expostos a uma bala perdida.

Basilina Pereira

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O GRITO DO SILÊNCIO

O GRITO DO SILÊNCIO

As vertentes gritam em silêncio
em sinuosas vozes crispadas, sem eco.
Aqui tão perto já houve um arco-íris!
Formou-se, luziu, encantou,
plantou a esperança num vaso sem fundo
e a chuva não veio, não veio a alegria.
Hoje uma gota flutua, sem tapete de folha,
na ausência da luz e brilho nenhum.
Mas se ainda assim ousassem buscar
a verdade legítima sem emenda ou aparas,

talvez não achassem. Quase certo que não.

Basilina Pereira

terça-feira, 15 de agosto de 2017

NÓ DE FUMAÇA

NÓ DE FUMAÇA

O que são esses momentos
que costuram a respiração pelo avesso
e lembram que a vida é também nó de fumaça,
caminho sem mapa, pilastra sem chão?
De onde vem esse quebranto
que se aloja sob a pele,
sem ruído nem medida, só silêncio,
à mercê de um tempo que não vai nem volta?
Onde coloquei a aldrava, que me permitia abrir o sol
semear a alegria no canto dos pássaros,
certa de que a noite me traria o verso bordado de estrelas?
O poema está ferido e todas as rimas jazem órfãs
dos sonhos que se perderam da poesia.

Basilina Pereira

 

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

MONÓLOGO DO FIM

MONÓLOGO DO FIM
       
Não sei de que feito o meu coração,
se de alegrias inventadas ou de tristezas indefinidas.
Acho que ninguém até hoje quis explorá-lo,
assim: como quem escava uma jazida
em busca da pedra dos sonhos.
Pode ser que o cascalho seja tanto,
que suplante o fim do dia
e o escuro que molda as relações humanas
engula a alvorada do poema.
Meus olhos são duas bocas famintas de amor.
Ao chorar pelo canto dos lábios,
envio mensagens de urgência, pedidos de socorro,
cartas postadas antes e depois da lágrima
em busca de um destinatário.
O passo seguinte é sempre um vácuo,
cravejado de perguntas esquecidas
ou, por outra, perdidas entre tantos mistérios
que dá medo traduzir
Pode ser que ninguém entenda,
ou não queira esticar os olhos até onde os fragmentos se tocam:
um lugar de encontros e despedidas.

 Basilina Pereira