quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

METAMORFOSE

Se canto minha canção azul,
vão dizer que transmutei: anil e ar.
Mas se piso a pedra quente
e viro brasa:
então sou eu - em carne e veias -
a fera desvairada das alcovas,
que bebe as noites no contorno das estrelas
e faz-se nua para versejar.
Não sabem eles: o maior silêncio
é o que grita nas entranhas
para o poema brotar.

Basilina Pereira

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O BEIJO

Na tarde que esperta teu corpo respira no meu,
enquanto o espírito se apronta
,
como uma isca a espera de.
O calor de um beijo propaga-se
no lume do vento
e o ritual é só a casca.
O cerne ainda procura
aquele resquício de céu
que faz brotar a semente.

Basilina Pereira

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

RESSONÂNCIA

Se o teu coração mirar o meu,
que seja com astúcia e sutileza,
pois a vida no casulo é estrangeira
e a aura que beija o anoitecer
é translúcida no inverso da corrente,
mas opaca e muito densa no subúrbio da emoção.
Mesmo se me trouxeres o sol por travesseiro
e prometeres que todo o ano tenha o ar de setembro,
ainda assim soará um eco antigo:
perigo à vista, cicatrizes
de uma existência sob a lâmina
que, mesmo inerte, ainda vive.

Basilina Pereira

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A PALMA DA MÃO

São muitos fios
nem todos atados,
cerzindo caminhos nos terraços da vida.
Deixam pegadas que o vento não cobre
e na superfície que envolve a palma
desafiam sua símile em qualquer direção.
Pode ser que contem histórias
ou então que abrigue
m lágrimas
entre um vértice e seu oposto.
Talvez prevejam amores ou alojem predições
de perigos e coisas mais...
Quem arrisca dizer
que não estava escrito nas linha da mão?

Basilina Pereira

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

MONTANHA

É onde subo
para me sentir mais perto do azul
e ter a sensação de que o horizonte
não é uma linha pontuada no infinito,
mas um estímulo para nossa vontade de voar.

Basilina Pereira

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

SEMENTES DE SILÊNCIO

Ouço meus silêncios
com a tranquilidade dos que creem.
O passado é uma bola
que ninguém poderá chutar
e, mesmo que pudesse,
seria um chute no espelho
e seus estilhaços cegariam braços e pernas.
A despeito da luz
que os vaga-lumes derramam sobre a noite
ouço os outros silêncios...
e acredito que eles guardam todos os sonhos
que um dia irão germinar.

Basilina Pereira



domingo, 1 de fevereiro de 2015


ENREDO

O amor é algo que não chega pronto.
Por vezes, é um estar com, mesmo sozinho,
como um eco presente na distância,
que acende estrelas à luz do dia.
É desejo que não cessa,
mesmo quando a chama abranda,
é carinho que embala mesmo rente ao furacão.
É ser completo em cada parte
e construir dia a dia o seu segredo,
que de pedaços se faz inteiro o caminho
a ser trilhado preso apenas à liberdade.


Basilina Pereira