sexta-feira, 27 de junho de 2008

OUTONO NO PARQUE

OUTONO NO PARQUE Meu outono confunde-se com o parque. Sentimentos pisam o tapete dourado, aquele chão bordado de folhas, que, no porta-passos da emoção, tenta descobrir por que há tantos lugares vazios. As árvores só observam... E meus pensamentos voam atrás das palavras ou traços de lembranças de uma paixão que viu tremerem aqueles bancos que hoje repousam sob um amarelo-esquecido, que nem parece descendente do sol. E a quietude do ar se mescla a minhas lembranças. Inverto o olhar... Tento descobrir sob a minha pele uma última flor derramada do verão, uma única flor... que possa exalar algum perfume capaz de fazer do silêncio uma canção. Basilina Pereira

domingo, 22 de junho de 2008

DEIXA

DEIXA Deixa a noite te abraçar por inteiro e te adornar os olhos de sonhos, para o cansaço te deixar ligeiro, e o amanhecer não te encontrar tristonho. Deixa o sono transpassar teu leito, a madrugada te cobrir de orvalho, o vento brando te afagar o peito e levar a dor num lenço de retalho. Deixa as estrelas dormirem no azul até que a lua lhes cubra de prata os vaga-lumes mostrarão o sul para as cigarras, hoje, em serenata. Deixa o silêncio te mostrar as notas que a nebulosa entoa num clarão, só um poeta cata as letras tortas se o amor voou atrás de uma canção. Deixa a fumaça desenhar anéis no labirinto do teu coração que hoje passa, amanhã também e o sol retorna, com ele o verão. Basilina Pereira

TRANSCENDÊNCIA

TRANSCENDÊNCIA Senti minhas asas queimando em seu olhar. Aquele fogo derretia minhas sebes e uma luz me ofuscava como flecha envenenada, tingindo a água que passou a verter de meus olhos. Os sons circundantes ecoavam como banalidades e as cores mais pareciam figuras bizarras exalando aromas, numa apoteose litúrgica. E eu, atingida por narcóticos olhares, senti-me, de repente, envolvida em sedas tomada, ora de estranho sensualismo, ora de desejos espiritualizados, como num sonho macerado de glória, sedento do enigma daquele êxtase. Perdi o tempo e a lucidez. Só vi uma orquestra moendo meus sentimentos e um vulcão a fremir em meu peito, volvendo espasmos a voejar em volúpia e brasas. Esfinge, desencanta-me, antes que a tarde enlouqueça de vez e eu comece a dançar sem os pés. Basilina Pereira

segunda-feira, 9 de junho de 2008

PASTORA

PASTORA Sou pastora da poesia cavalgo versos de anis se rimo a noite com o dia não sei bem por que o fiz. Mas não consigo outras plagas outro jeito de rimar se solto a letra e as mágoas esse é meu jeito de amar. E assim caminho entre as linhas do poema inacabado catando dores tão minhas vislumbrando o outro lado onde o soneto não dorme sobre um poema concreto e a práxis vige conforme seu próprio corpo e contexto. Sou pastora da poesia sob a chuva ou Sob o sol e as palavras, quem diria! São a isca em meu anzol.