quarta-feira, 30 de novembro de 2016

RITUAL DE BEIJA-FLOR

RITUAL DE BEIJA-FLOR.

Sentir a palavra na boca,
seu som ecoando no peito,
feito reflexo, no espelho líquido do lago
onde o poema vem banhar-se.
Líquido fonema
desliza por lábios sem mágoa
num sopro delgado e liso: ritual de beija-flor
enchendo o ninho de poesia.


Basilina Pereira

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O PASSO SEGUINTE

O PASSO SEGUINTE

Uma estrada a percorrer sem mapa, 
pés avulsos, olhos nus,
corpo tragado pela distância,
sensação de estar perdido
dentro dos próprios pensamentos.
O caminho a ser trilhado é sem volta,
feito o rio que que tem por bússola a solidão.
Carregar todos os vultos passantes
e agarrar o momento em que o sorriso acordou
é como dobrar o silêncio para multiplicá-lo,
como se fossem gotas no deserto.
O passo seguinte
é sempre um não saber onde e quando,
uma lição a ser lida de costas
e com os olhos vendados.

Basilina Pereira

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

SONHOS DE POETA

SONHOS DO POETA

Palavras vestidas de luz,
flores que dormem no chão,
pássaros com asas em cruz
e um poema em gestação.

Na mente versos de anis,
forjados na palma da mão,
rimas marcadas com giz
no compasso da emoção.

E assim flutua o poeta,
com um sonho em cada mão,
a alma sempre inquieta
desnuda o seu coração


Basilina Pereira

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O FAROL E OS SONHOS

O FAROL E OS SONHOS

Um pouco de silêncio, um tanto de utopia,
é o que segue manhã afora,
se a maré não der contraordem
e voltar ao ponto de partida.
O sol nem se mostra
e sua ausência vai sendo suprida
por ideias que perfilam inquietas
e, aos poucos, vão se espalhando
entre notícias e navalhas
que invadem os arrecifes do medo.
Entre um minuto e outro, a poesia chama.
Nenhum náufrago chegará à praia
se não acender um farol no peito e sonhar:
com letras miúdas voltando pra casa,
versos soltos querendo abraçar-se
e um poema de amor
que onda nenhuma poderá tragar.

Basilina Pereira


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

RESPINGOS POÉTICOS

RESPINGOS POÉTICOS

Uma chuva fininha respinga lá fora.
O poema quer molhar-se a todo custo,
sussurra, conjura, esperneia,
tanto faz que não me resta escolha.
Há tanto mais pra fazer, penso!
Mas ele trava a manhã com sua urgência,
faz cócegas em minhas ideias,
embaralhando-as com seus arroubos incorpóreos
e não me deixa saída.
O jeito é interromper a rotina dos pássaros,
colher o vibrato harmonioso do seu canto
e deixar que os versos fluam
na única brecha onde o tempo não importa.


Basilina Pereira

domingo, 13 de novembro de 2016

QUANDO SE LÊ

QUANDO SE LÊ

Quando se lê um livro,
alguma luz se acende
num planeta distante.
Nada mais será igual:
há o antes e o depois;
durante é processo e êxtase,
pedras que descolam das nuvens e voam,
mesmo que o gosto a deglutir seja amargo.
Quando se lê um livro,
a humanidade dá mais um passo e avisa:
nem tudo está perdido!

Basilina Pereira


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O VULTO

O VULTO

De repente,
na memória,
aquele vulto.
Nem forma tem,
só flutua
e acorda a velha chaga
que já tinha virado poema.


Basilina Pereira