MAS
Difícil tangenciar
essa volúpia secreta
escondida no olho do profeta.
Nem as previsões ciclópicas
submersas em realidade hostil
sustentam a imagem em negativo
dessa carne dura
onde repousa a humanidade.
Sua sombra vagueia no cosmo
sujeita à afasia do pensamento,
achaque que desafia Esculápio
em sua jornada fora da noite.
Solidão de paisagem lunar,
eternidade dos indiferentes,
maremoto de boas intenções,
Acorrei!
É preciso reescrever o tempo,
mas...
minha devoção às palavras me salvará.
Basilina Pereira
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
TALVEZ
TALVEZ
Talvez um dia seja pouco
pra eu me perder no teu olhar;
talvez um mês não seja tanto
pra tecer versos ao luar;
talvez um ano...seja nada
ante o meu desejo
de te amar de madrugada...
Talvez a minha incerteza
seja a única coisa certa.
Talvez... a minha saudade
seja tudo que ainda resta.
Basilina Pereira
sábado, 6 de dezembro de 2008
O QUE O TEMPO NÃO LEVA
O QUE TEMPO NÃO LEVA
O relógio da parede
recusa-se a prender a hora.
Em sua trajetória de sonhos,
só faz repetir o instante:
fragmentos perdidos e não vividos.
Ah! como esse pêndulo nos devora...
Leva embora o nosso brilho
e nos devolve opacidade,
até um traço de azinhavre
deixa escondido entre lembranças
sobrepostas em camadas
que, ao final, é quase nada
ante a voracidade do tempo
que dissolve o homem,
faz camuflar as emoções
e dissipa a própria mágoa,
só não... as idéias
que permanecem num casulo
e renascem numa gota de orvalho
Basilina Pereira
terça-feira, 18 de novembro de 2008
ORAÇÃO DO POETA
Senhor da prosa e do verso,
que este poeta disperso,
possa percorrer o mundo
do céu aos vales profundos,
levando pra toda gente
seu canto vivo e ardente
impregnado de carinho
feito arremate de ninho.
Que sua palavra vibrante
vá além de um só instante
do impacto emocional,
pois ela existe, afinal,
pra bordar o dom da vida,
amenizar as feridas,
com sua mensagem de fogo
lembrar que as regras do jogo
são simples questão de escolha;
é o vento esperando a folha.
Senhor do rima (im)perfeita,
eu sei bem: não há receita
mas acolhe em mansidão
esta súplice oração
que eu possa inverter as cores
encher a alma de amores
lavrar o solo infecundo
levar esperança ao mundo
vasculhar o chão dormente
só pra adubar a semente
e espalhar na ventania
todo o encanto da poesia.
Basilina Pereira
terça-feira, 28 de outubro de 2008
FUNDO FALSO
FUNDO FALSO
O homem inventou a solidão.
Cada um em seu mundo
conduz o passo
de olho no pé
em pé
sobre areia movediça.
E não há como salvar-se
enquanto o egoísmo sedimentar o seu reduto
e o medo rondar as passagens estreitas...
Quanta fragilidade!
A vida que olha de fora pra dentro
é uma vida inventada
que não cabe em si mesma,
onde o grito camuflado
cativa o silêncio dos ventos
num lance de pura sedução.
E o sentimento morre numa cava de ilusões
soterrado pelo fundo falso.
Basilina Pereira
terça-feira, 14 de outubro de 2008
FLOR TARDIA
FLOR TARDIA
Pediram-me pra não rimar.
Mas isso é desmontar meu coração,
é abrir a janela
e perceber que não há sol,
um soco rasgado no poema,
é a eclipse da emoção.
É tão bom poder rimar amor e...(flor)!
Não sei usar o excremento das palavras...
E onde ficam os ecos das metáforas
que revestem de brilho a poesia?
Acho que também perdi o bonde
e no jardim onde queima a minha face
sou apenas uma flor tardia.
Basilina Pereira
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
ARABESCOS
Rabisco meus sonhos dentro do espelho
pra que a memória os resgate
antes que névoa da noite
os transforme em séculos perdidos.
Lá no alto, pedaços de alegria mesclam-se
com lembranças ardentes e perdem –se
entre as muralhas do tempo.
Trago no peito, latente, o desencanto....
Cato estilhaços de um amor sonhado
Como quem busca gotas de orvalho
na escuridão.
Lá no alto, uma estrela não diz pra onde vai...
ignora que a saudade me sangra em cada olhar.
Basilina Pereira
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
PREVISÃO DO TEMPO
PREVISÃO DO TEMPO
Hoje o meu coração amanheceu com cheiro de chuva.
Olhando pela janela vejo nuvens furta-cores
e sinto um vento brando sussurrando edelvais,
enquanto o orvalho sinaliza:
primavera!
No ar: prenúncio de tempo bom
lá pros lados da emoção,
a razão também promete: equilíbrio,
passo certo e alegria.
À frente, a estrada nova
diz que vida é este instante...
Quanto vive a borboleta?
Acaso é menos fascinante?
Na memória sopra a brisa
salva o amor que ainda desliza
pelos campos da saudade.
Abro os braços num sorriso
é tudo de que preciso
pra cantar com os rouxinóis.
Basilina Pereira
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Com meu carinho e votos de uma boa tarde e boa noite.
RANHURAS
Olho para esta tela desbotada
e me pergunto onde foram parar as cores
que já brilharam ao encanto do sol
em tonalidades soberanas e lúdicas
como qualquer aquarela tropical.
Do vermelho, resta um leve tom dourado
quando os olhos castanhos voltam
de sua jornada reminiscente....
O verde desfez-se na esperança
que,cansada, esmaeceu em saudades.
O azul, o amarelo e o lilás
perderam-se nas vertentes,
sucumbiram-se às ausências,
desfizeram-se em prantos e desencantos.
Hoje tento avivar esses tons pastéis
que o tempo modelou em minha alma.
A tela exibe ranhuras
e há cicatrizes na moldura,
mas resta um suave tom de rosa
registro silencioso que fugiu de uma canção.
Basilina Pereira
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
POEMETO DO CAMINHO
EU SÓ QUERIA DIZER
EU SÓ QUERIA DIZER...
Eu só queria dizer que te amei
e se quiseres saber por quê? não sei.
Não perguntes aos ponteiros do relógio
por que ele gira em maratona sem pódio.
Vendo a noite grudada na parede
bebi teu hálito em frenesi de sede
e contando estrelas até o amanhecer
pintei a vida, o amor que eu queria ter.
Amei-te entre a harmonia e o descompasso
palmilhei cada centímetro deste laço
que prendeu minha afeição:prisão perpétua,
fez meu coração girar como um atleta
enquanto a tarde martelava no vazio...
- Por que resisto a esse sopro tão frio?
Porque o amor, em si, não sabe a hora
de fechar a porta e ir embora.
Basilina Pereira
VITÓRIA DA SAMOTRÁCIA
Dize-me, estátua guia,
se cantas ou choras
enquanto teus pés tateiam, à procura
de um verso
flutuando
no universo
e um caminho, que nunca chega.
Conta-me que deus louco te plantou asas
...sem cabeça.
Fala-me das coisas que deixaste de ver,
dos perfumes que não sentiste,
da música, do sonho
e dos sabores imaginários.
Confessa-me, pássaro cego,
mágico encantador de almas,
acaso escolheste a liberdade?
Basilina Pereira
terça-feira, 2 de setembro de 2008
OUTROS MOTIVOS DA ROSA
OUTROS MOTIVOS DA ROSA
Ser rainha do canteiro
não é seu fito primeiro
nem a mais bela das flores
que dita versos e amores.
Ser rosa é vencer o espinho
correr por tênue caminho,
ser luz que enfeita a manhã
com cor e tom de artesã.
Vejo ainda outros motivos:
uma brisa, um ar furtivo,
um caminho de perfume
que, qual flecha, acende o lume
das estrelas que, apagadas,
choram, querem ser amadas,
pela lua e seu clarão
numa noite de verão.
Ser rosa é não ter vazio,
vencer o outono e o frio
do inverno e, de alma nua,
desabrochar em plena rua.
Basilina Pereira
O LAGO
POEMA DE LUZ 2
POEMA DE LUZ 2
Corais, anêmonas, cantai!
que o tempo ainda vige
e a noite conserva o brilho do sol.
As cores permanecem morenas
e os homens ainda se apaixonam.
Cantai, que mundo é sábio...
Vem o verão
e derrete os fantasmas
e conserva as pétalas
e proclama o império
da luz, em um sorriso.
Basilina Pereira
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
A NOITE
A NOITE
Cai a noite.
Enquanto a luz espreguiça
escolhemos ver:
um céu sulfúrico
ou um horizonte de ouro.
Pela fresta do olhar,
metade de uma estrela espia
se acaso não há, por ali,
um ladrão de céu.
E como prelúdio lunar
vão surgindo nesgas de escuridão
em formato evanescente
dispostas a dançar com as nuvens
enquanto decidimos
se queremos sonhar com as flores
ou esperar amanhecer.
Basilina Pereira
sexta-feira, 27 de junho de 2008
OUTONO NO PARQUE
OUTONO NO PARQUE
Meu outono confunde-se com o parque.
Sentimentos pisam o tapete dourado,
aquele chão bordado de folhas,
que, no porta-passos da emoção,
tenta descobrir por que há tantos lugares vazios.
As árvores só observam...
E meus pensamentos voam atrás das palavras
ou traços de lembranças
de uma paixão que viu tremerem aqueles bancos
que hoje repousam sob um amarelo-esquecido,
que nem parece descendente do sol.
E a quietude do ar se mescla a minhas lembranças.
Inverto o olhar...
Tento descobrir sob a minha pele
uma última flor derramada do verão,
uma única flor...
que possa exalar algum perfume
capaz de fazer do silêncio uma canção.
Basilina Pereira
domingo, 22 de junho de 2008
DEIXA
DEIXA
Deixa a noite te abraçar por inteiro
e te adornar os olhos de sonhos,
para o cansaço te deixar ligeiro,
e o amanhecer não te encontrar tristonho.
Deixa o sono transpassar teu leito,
a madrugada te cobrir de orvalho,
o vento brando te afagar o peito
e levar a dor num lenço de retalho.
Deixa as estrelas dormirem no azul
até que a lua lhes cubra de prata
os vaga-lumes mostrarão o sul
para as cigarras, hoje, em serenata.
Deixa o silêncio te mostrar as notas
que a nebulosa entoa num clarão,
só um poeta cata as letras tortas
se o amor voou atrás de uma canção.
Deixa a fumaça desenhar anéis
no labirinto do teu coração
que hoje passa, amanhã também
e o sol retorna, com ele o verão.
Basilina Pereira
TRANSCENDÊNCIA
TRANSCENDÊNCIA
Senti minhas asas queimando em seu olhar.
Aquele fogo derretia minhas sebes
e uma luz me ofuscava como flecha envenenada,
tingindo a água que passou a verter de meus olhos.
Os sons circundantes ecoavam como banalidades
e as cores mais pareciam figuras bizarras
exalando aromas, numa apoteose litúrgica.
E eu, atingida por narcóticos olhares,
senti-me, de repente, envolvida em sedas
tomada, ora de estranho sensualismo,
ora de desejos espiritualizados,
como num sonho macerado de glória,
sedento do enigma daquele êxtase.
Perdi o tempo e a lucidez.
Só vi uma orquestra moendo meus sentimentos
e um vulcão a fremir em meu peito,
volvendo espasmos a voejar em volúpia e brasas.
Esfinge, desencanta-me,
antes que a tarde enlouqueça de vez
e eu comece a dançar sem os pés.
Basilina Pereira
segunda-feira, 9 de junho de 2008
PASTORA
PASTORA
Sou pastora da poesia
cavalgo versos de anis
se rimo a noite com o dia
não sei bem por que o fiz.
Mas não consigo outras plagas
outro jeito de rimar
se solto a letra e as mágoas
esse é meu jeito de amar.
E assim caminho entre as linhas
do poema inacabado
catando dores tão minhas
vislumbrando o outro lado
onde o soneto não dorme
sobre um poema concreto
e a práxis vige conforme
seu próprio corpo e contexto.
Sou pastora da poesia
sob a chuva ou Sob o sol
e as palavras, quem diria!
São a isca em meu anzol.
terça-feira, 27 de maio de 2008
ATRAÇÃO
ATRAÇÃO
Cheiro de mistério
impregna minha narinas ensolaradas.
Há uma ameaça de nuvem cobrindo meu rosto
e o ar quente magnetiza meus olhos e minha mente.
Um arrepio me percorre o corpo
e as pernas trêmulas atropelam o passo
encolhido em sua insegurança momentânea.
Sua presença abre uma cratera
de medo, prazer e paixão
que escorrem pelos poros
até o limite da lucidez.
Com as mãos molhadas descubro
que gente renasce, às vezes.
Basilina Pereira
segunda-feira, 26 de maio de 2008
SEM PREÇO
SEM PREÇO
...um bom filme na tv
um horizonte pra se ver
uma xícara de café
chinelo velho no pé
o abraço de um amigo
chuva fina e um abrigo
olhar o filho dormindo
ver o amor chegar sorrindo
andar descalço na grama
lençóis macios na cama
um sorvete de avelã
a brisa fresca da manhã
uma rede na varanda
boa roda de ciranda
beija-flor frente à janela
e um jantar à luz de velas...
Basilina Pereira
O JARDIM
O JARDIM
A gente passa pela vida
ora amando ora sofrendo por um amor.
Uma vez me perguntaram o quanto eu era feliz amando
e como enfrentava os delírios da dor.
Respondi que meu jardim era sempre verde,
mas muitas vezes não tinha flores.
Há quem saiba apreciar o verde
e também os que não vivem sem as flores.
Eu admiro todas as flores
mas aprendi a amar a orquídea.
Ela floresce apenas uma vez ao ano.
Sua flor é exuberante
e seu perfume...ah o seu perfume!
Sua floração dura mais tempo que outras
talvez para compensar a longa espera.
Basilina Pereira
PALAVRA (QUE)BRADA
Ás vezes é quase nada
só uma noção de sentido,
um sentimento doído
de uma frase mal falada
envolta e jogada ao vento
folhas de verdes dormentes
que com o vigor da semente
dilacerara o sentimento.
Relâmpago na madrugada
risca o olhar e queima a pele
palavra (que)brada fere
se não for dimensionada,
age qual vela partida
com luz própria, feito brasa,
queima o sonho e dobra a asa,
devora com letra a vida.
Basilina Pereira
TARDE DE DOMINGO
TARDE DE DOMINGO
A tarde na varanda desafia a minha imaginação.
A rede silenciosa e cansada recusa-se a colaborar,
esticada em seus punhos de algodão doce.
Os pássaros do jardim, em tarde de gala,
executam seu pequeno concerto vesperal
sob a regência de um colorido bem-te-vi,
a percussão do “fogo-apagou”e
o coral de inúmeros pardais.
Borboletas amarelas desenham círculos entre as orquídeas,
pousando aqui e ali em sua jornada simples e óbvia.
O vento parece ter se escondido nas cavernas
tamanha a quietude das folhas...
E eu me sinto parte desse mundo
e pergunto a meus pensamentos
como semear este momento de paz?
Basilina Pereira
sexta-feira, 9 de maio de 2008
AS HORAS
AS HORAS
Escuto a linguagem da noite
como se buscasse no tempo
os sonhos incandescentes
que desafiam o tic-tac do relógio.
Além do orvalho esquivo
que se recusa a regar meus pensamentos
despontam lembranças comuns
tão mutáveis, mas assim mesmo tão iguais.
Na penumbra das horas
vagas formas deságuam
de meus olhos sem estrelas
e seguem o rastro das gaivotas.
Procuro a voz no silêncio:presa,
ensaio um canto obscuro
pra que a brisa retorne com seu eco,
mas o som que volta é oco, é pouco.
Basilina Pereira
O EIXO
O EIXO
Neste mundo aportamos
sem mares, sem caravelas,
nada diz porque chegamos
a este beco de vielas.
E o caminho aí começa
sem manual de instrução
tudo é longe, haja pressa,
correm os pés e as mãos.
Numa aventura tão ampla
o corpo reclama a rede
e a alma, às vezes, descampa
solitária em sua sede.
Uns chegando outros partindo
sem saber como e por quê
e os degraus vamos subindo
pra onde não sei dizer.
E o segredo assim persiste
além do tempo e da hora
há quem nos campos insiste
e os que partem sem demora.
Cogitam tantos desfechos
dessa viagem sem par
só não decifram o eixo
que faz a roda girar.
Basilina Pereira
CAMUFLAGEM
CAMUFLAGEM
Não sei se a dor chegou com a tarde
ou com o vento
que balançou as cortinas do tempo
e fez voar a poeira que parecia dormente,
camuflada entre os lapsos de silêncio.
Ou talvez ela tenha voltado pra espantar o limbo
que vivia a escoltar meus pensamentos
perdidos entre o resto de memória.
O tempo é traiçoeiro.
Se por um lado ele eterniza momentos
desafiando o muro dos séculos,
há o perigo incrustado nos enredos efêmeros
quando o corpo e o espírito submissos
descuidam da tessitura do veio,
fazendo com que a música se apague.
São fios de uma mesma meada
que tecem o começo e o fim,
em descompasso,
quando a alma não resiste
e sons emaranhados sopram o fogo
que torna o horizonte encharcado e escuro
como uma explosão nuclear.
Sentimentos perdidos, anseios quebrados,
por que regressam? Estavam tão bem guardados!
Basilina Pereira
domingo, 3 de fevereiro de 2008
MANHÃ de CARNAVAL
MANHÃ DE CARNAVAL
Quem nunca sonhou um dia
com uma bela fantasia,
brilho, luzes, aquarela,
como se vê na novela?
Leveza das bailarinas
com asas de purpurina,
confetes no coração
liberando a emoção?
Na passarela da vida
temos muitas avenidas
uma retas, outras tortas,
o que vale é achar a porta,
aquela que dá passagem
ao nosso grito de coragem
e liberta a alegria
que almejamos todo dia.
No labirinto da alma
minotauro pede calma
é preciso ousadia
pra vestir a fantasia
e dançar aos quatro ventos
a marchinha do momento,
espalhar sorriso e graça,
dormir no banco da praça,
dançar com a mulata louca,
não perder beijo na boca,
mesmo que a manhã seguinte
só traga a rua e o pedinte.
Basilina Pereira
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
BEIJO ASSOPRADO
BEIJO ASSOPRADO
Inda hoje me lembro...
Nossos vultos pisando sonhos,
falando ao vento na encruzilhada,
olhos perplexos,
frases sem nexo,
que só nós entendíamos com o olhar...
Aquela música assobiada
do filme que não vimos, mas ouvimos falar,
a emoção contida, a vislumbrar dias futuros,
atrás dos muros de nossa ingenuidade.
O contorno da praça ainda pergunta
pelos passos que sumiram nas curvas da vida,
a espera do abraço,
que nunca veio.
E aqueles silêncios...tão eloqüentes!
Só maculados pelas batidas de nossos corações.
Lembranças rasgadas...estrelas apagadas...
Foi tudo que restou, além de um único beijo – assoprado.
Basilina Pereira
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
A PERGUNTA
A PERGUNTA
De letras mortas
e mal pintadas
junto pedaços
de quase nada.
São marcas vivas,
flama do tempo,
que como espumas
sumiu no vento.
Por mais que sofra
esboço um canto
faço a pergunta
que queima o pranto:
tantos caminhos
por onde andei
por que motivo
não te encontrei?
Penso nos dias
de devaneios,
penso nos meses
- o sol não veio.
Restam os anos,
rugas, espantos,
tantos enganos
só não sei quantos.
A tarde é calma
chama a poesia,
só uma imagem
me desafia...
Basilina Pereira
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