DEIXA
Deixa a noite te abraçar por inteiro
e te adornar os olhos de sonhos,
para o cansaço te deixar ligeiro,
e o amanhecer não te encontrar tristonho.
Deixa o sono transpassar teu leito,
a madrugada te cobrir de orvalho,
o vento brando te afagar o peito
e levar a dor num lenço de retalho.
Deixa as estrelas dormirem no azul
até que a lua lhes cubra de prata
os vaga-lumes mostrarão o sul
para as cigarras, hoje, em serenata.
Deixa o silêncio te mostrar as notas
que a nebulosa entoa num clarão,
só um poeta cata as letras tortas
se o amor voou atrás de uma canção.
Deixa a fumaça desenhar anéis
no labirinto do teu coração
que hoje passa, amanhã também
e o sol retorna, com ele o verão.
Basilina Pereira
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