A TELA
O sol se ergue devagar,
será pelo silêncio da noite? deixa quebrar.
Quer pintar a manhã
com suas facetas douradas
e colorir as minúsculas gotículas orvalhadas
que denunciam o sereno da noite.
Até as geleiras, senhoras do branco e dos séculos,
deixam cair suas lágrimas azuis, solidárias,
testemunhas de uma prece lendária
que submerge e ecoa com a vida.
Alheio ao som do universo está o homem.
Faz de conta que não percebe o sentimento do mundo,
envolto no desencontro de almas aflitas,
pisando duro sobre a ansiedade que grita
por pão, por uma mão... amiga,
mas quem é que liga?
Olhos não querem ver
que a grama brota raquítica onde falhou o amor,
quem disse que um belo jardim não ameniza a dor?
Carne, carne, carne fraca...
A mente é forte, mas não sabe,
ignora que os contrastes formam o intrincado jogo
em que as peças estão dispostas na ordem exata da compreensão
e da escolha, mas nem sempre se acha a tinta certa
quando a tela está em branco.
Basilina Pereira
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