ERA UMA VEZ...
Era uma vez...em algum lugar...
Clima de mistério no ar.
Razão? Nenhuma que esconda
nem emoção que revele mais: magia,
detalhes tão infrenes
ou motivos tão perenes
de um novo dia...
a chegada do sinal:óbvio, latente,
acelerando as pulsações.
A sensatez fugiu pro monte,
o desejo saltou da ponte
e a profecia se cumpriu.
Naquela noite, um olhar trouxe a lua cheia,
e um sorriso nidificou na areia.
O vento passou silente pela janela
pra não quebrar o encanto:luz de velas.
A flor indecisa exibiu seu manto
e o encanto escalou a cascata,
pra afagar os corações em serenata.
Basilina Pereira
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
sábado, 27 de outubro de 2007
O TEMPLO DO POETA
O templo do poeta é a promessa de um novo dia,
é o pulsar das emoções , mesmo com a alma vazia.
Pela fúria das estrofes e pela indulgência das rimas
navega em águas revoltas, se preciso rio-acima.
Seus versos não desabrocham em calmos bancos de areia
quer sua musa humana, mas com nuances de sereia.
Tentando a frase perfeita, arrisca prazer e dor
a espera que o pôr–do-sol junte os destroços do amor.
Com um dedo de esperança, persegue ventos, monções,
traz a palavra concreta que traduz as sensações
de estar em plena busca, ser o barco e ser o porto,
viver na sombra das ostras e só brilhar depois de morto.
Basilina pPreira
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Sem Volta
SEM VOLTA
São tantas mudanças,
tantos vestígios,
que o tempo impõe à alma e à face...
A moldura esmaece,
o quadro claro escurece
e não há tinta para restaurar a dor.
O olhar já não brilha ao entardecer
e o sorriso perdeu a mística do encanto.
De muitas veredas não se consegue voltar.
Basilina Pereira
Ideologia
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
MOTIVO
MOTIVO
Disseram que nada é tudo,
eu digo que tudo é nada,
se não existe um propósito,
se não raia a madrugada.
Só ela traz novo dia
com bordados de manhã
pra cobrir a fantasia,
alento de mente sã.
No passo, a quase certeza
da procura ancestral,
que se contesta, e se afirma,
seja no bem ou no mal.
É sempre um ponto obscuro
que nos instiga a seguir,
no horizonte há um futuro
todo pronto pra florir
desde que haja motivo,
crença forte, pé no chão,
não há melhor incentivo
que um olho fixo e a mão.
Basilina Pereira
domingo, 21 de outubro de 2007
FENDAS
FENDAS
Peles enrugadas passam perto da janela,
assim como cabelos brancos e olhos sem vela.
Revelam, nos passos incertos, o peso dos anos,
quem sabe fendas na alma e muitos enganos.
Quantos sonhos esmagados, convicção versuta,
percorrendo os mesmos umbrais, mentes matutas
perdidas na teia de sua própria miopia.
Como matar a sede se a bilha esta vazia?
Onde foram parar o viço e a esperança
que um dia enfeitaram o riso criança
e pontilharam de certeza os passos
que hoje vagam sem saída, sem regaço...
Nas fotos amarelecidas, o registro da história,
fragmentos de um desafio ainda na memória,
mas o trote não foi maior que a marcha
e nem sempre o que o outro perde a gente acha.
No passo incerto, muitas perguntas e pouco tempo
pra deixar a bengala e restaurar o sentimento,
pra lembrar que a vida é mariposa, é improviso.
Saudades...de quê mesmo? de um sorriso.
Basilina Pereira
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
UM DIA QUALQUER
UM DIA QUALQUER
Quantos tropeços nossos pés suportam...
Um dia qualquer perguntarão
por que existem as pedras no caminho
e por que na frente não vão foice e ancinho,
tornando a caminhada mais leve?
Quanto peso nossos ombros suportam...
Um dia qualquer sentirão
os reflexos e o fardo das horas
vertidas no cântaro de muitas demoras,
que o deserto remoto converte em sede.
Quantas coisas nos fogem das mãos...
Um dia qualquer buscarão
a âncora para prender os sonhos
numa felicidade lícita, sem sobressaltos medonhos,
querendo apenas ouvir a Traviata de Verdi.
Quanta amargura nosso coração consente...
Um dia qualquer abrirá as comportas
e expulsará as lamúrias pendentes e tortas
porque sua dor chegou ao limite
e a vida pede mais que um corpo na rede.
Quanto coisa ainda se enxerga pelo avesso...
Um dia qualquer quero reinventar a roda,
fazer o amor entrar de novo na moda
porque é tão mais fácil alimentar o bem,
num dia qualquer e no outro também.
Basilina Pereira
sábado, 13 de outubro de 2007
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
ROTEIRO
Meu roteiro é este instante.
A nuvem de hoje não volta,
mesmo que o vento persista
em sua fúria interior,
só vinga, além do círculo do olhar,
a espessura da escuridão.
Ninguém é completo...
Por isso busco na estrutura do momento
as banalidades que enfeitam o cotidiano
e tento ignorar os deboches, que se disfarçam,
na fantasia das manhãs sem ritmo.
A febre continua a me ofuscar com sua estrela
que tem como cio o ápice da primavera,
aquela sensação inatingível,
que se busca no clímax do silêncio.
Quantos grilhões ainda por quebrar...
O guindaste tem a força do ferro
para vencer a moral que graça nos quintais,
rente aos telhados,
e os dedos têm a sutileza das pontas
a roçar os seios, sem saber onde expandir
(pra dentro ou pra fora?)...
A alma se rende à inquietude:
perguntas sem respostas, anseios que não se mostram...
tudo demasiado humano.
E os passos, na poeira, seguirão em busca do mistério,
tentando driblar aquela ansiedade que destrói o dia
e espera por um novo sol.
Basilina Pereira
terça-feira, 9 de outubro de 2007
SENTIMENTOS
SENTIMENTOS
A chuva jorrou seu pranto,
a lua se escondeu num canto.
Lá fora, verdeja o vento
Cá dentro, os sentimentos:
a vida transborda em mim
como um princípio sem fim;
a morte é surpresa certa,
só espera a hora deserta;
o sonho alimenta as asas,
tinge de mistério as casas;
a esperança é recomeço
tributo que não tem preço;
o amor é promessa bela,
traz a cor e pinta a tela;
na mágoa esconde-se o medo,
abismo e todo o segredo;
o tédio de longe vi,
Ah! mas esse não senti!
Basilina Pereira
A TELA
A TELA
O sol se ergue devagar,
será pelo silêncio da noite? deixa quebrar.
Quer pintar a manhã
com suas facetas douradas
e colorir as minúsculas gotículas orvalhadas
que denunciam o sereno da noite.
Até as geleiras, senhoras do branco e dos séculos,
deixam cair suas lágrimas azuis, solidárias,
testemunhas de uma prece lendária
que submerge e ecoa com a vida.
Alheio ao som do universo está o homem.
Faz de conta que não percebe o sentimento do mundo,
envolto no desencontro de almas aflitas,
pisando duro sobre a ansiedade que grita
por pão, por uma mão... amiga,
mas quem é que liga?
Olhos não querem ver
que a grama brota raquítica onde falhou o amor,
quem disse que um belo jardim não ameniza a dor?
Carne, carne, carne fraca...
A mente é forte, mas não sabe,
ignora que os contrastes formam o intrincado jogo
em que as peças estão dispostas na ordem exata da compreensão
e da escolha, mas nem sempre se acha a tinta certa
quando a tela está em branco.
Basilina Pereira
INSÔNIA
De repente, é madrugada.
O galo canta macio
e o coração não diz nada.
O sono se perdeu no vazio
das promessas que ouvi
e cansei de catalogar no infinito
de minhas certezas pueris.
Já não sei em que acredito,
sigo debatendo-me no porto
onde todas as embarcações dormem
e só eu fujo do ponto cego da noite
de onde escorrem meus cabelos soltos,
como caídos de nuvens disformes,
à espera de que o sono volte.
Basilina Pereira
AMIGOS
AMIGOS
Vocês salpicam o meu painel de estrelas,
acenam com o lenço da chegada
pra suavizar a partida,
fazem-me lembrar que o canto
não só rima com encanto,
mas dissipa mágoas, adoça a vida.
Nesse estreito que se chama caminho
não se consegue avançar sozinho
nem aplaudir o ato com um dedo só,
são pequenas alegrias e momentos,
gestos suaves, divisão do sentimento,
que ultrapassam o limite da bondade
e constroem, gota a gota, a felicidade.
Basilina Pereira
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
O ELO
O ELO
Do que preciso nesta rota caminhada
presa no tempo, se é poente ou madrugada?
Em luz ou sombra meu destino é adejar
por fantasias, como um pêndulo a bailar.
A espada pende onde goteja a esperança,
são muros loucos que desafiam a bonança:
pequena trégua, senda por onde caminho.
Onde está Pégaso? quero encontrá-lo sozinho
pra indagar sobre o infindável mistério:
qual o meu elo nesta corrente do etéreo,
onde me encaixo na intumescência da vida?
Se basta o ópio ou é mais ampla a ferida
que tange o corpo nesse compasso de espera
e faz da luz uma esfinge de quimera.
Basilina Pereira
VESTÍGIOS
A tarde entra pela janela.
Reflexos úmidos acompanham a brisa
que instiga devaneios
e se perdem entre os parcos receios
de uma mente tagarela.
Entrego-me à divagação...
Refaço o percurso, nos campos, nos palcos:
percebo fissuras nas velhas molduras
que tentaram resistir ao cansaço,
o velho novelo já não prende o laço,
foi corroído pelo nó cego.
A gangorra oscila entre a fraqueza e o poder,
fios de uma mesma meada,
nuances de quase nada,
que, hoje, desnudam o ponto
em que a magia se perdeu.
Como são cruéis as lembranças:
voltam, mesmo se apagadas
e fogem...as desejadas.
São sensações demasiado humanas,
envoltas na ousadia improvável do esquecimento,
poço sem fundo,de onde ressurgem,
com outra roupagem, vestígios transmutados
de uma alegria que a estrela da tarde não levou.
Basilina Pereira
SENTINELAS
Banco da praça depois do passeio,
na vertigem da tarde que cai,
sobem as ruas e as avenidas descem
pra ver os amantes, que vão na frente.
Atrás, uma cortina de segredos.
A censura segue por último,
como um velho pastor a velar
por ovelhas indefesas
que, em bando, buscam miragem
em sua cálida inocência.
O roteiro é mutante,
inútil disfarce pra quem baila
na volúpia do primeiro amor,
sentimentos instáveis,
ardentes...receios? nenhum
o anseio é constante, a magia, real:
os encontros furtivos,olhos nos olhos
querendo mais...
Os dedos se tocam em arrepio,
é o tempo que desmaia.
Foram muitas as testemunhas
que velaram esses encontros: esquinas,
portas, varandas e janelas,
que até hoje permanecem mudas,
como sentinelas.
Basilina Pereira
Medo de Amar
MEDO DE AMAR
Quando o sol se vai
fica a certeza do amanhecer,
mas a ausência do amor perdido
deixa um lapso, um não-querer
capaz de ignorar a aurora
e tudo o mais que venha a ser.
É tanto medo, travestido,
camuflado, invertido, só num canto,
esquecido, nem quebranto
mina mais a alegria
que o pavor – de um novo amor,
de um novo dia.
Mas a mesma onda que leva
no balanço é a que traz
novos ventos, novas flores
e, às vezes, surpresas mais.
Quem sabe num chão de abril...
...um botão de edelvais?
domingo, 7 de outubro de 2007
Nuances de Primavera
NUANCES DE PRIMAVERA
Antevendo a primavera,
os pássaros fazem seus ninhos,
lançam gorjeios , esperam,
não querem cantar sozinhos.
No calor que se agiganta,
os ipês põem ouro em pó,
com acordes na garganta,
canta livre o chororó.
O vento brinca nas folhas
da mangueira em floração,
o sabão se torna bolhas
que bailam com a emoção.
Os jardins, antes sem lume,
desabrocham em aquarelas
vários tons, muitos perfumes,
novas flores nas janelas.
A chuva oblíqua da tarde
traz a calma, lava o manto,
na manhã que o céu invade
não há lugar para o pranto.
E toda a vida se agita
só há romance no ar
tudo é belo - a alma grita -
no céu, na terra e no mar.
Basilina Pereira
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