terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PEGADAS


PEGADAS

O crepúsculo é a revoada do céu:
aquele torpor que desce a montanha
e cava um túnel no tempo
pra resgatar o que a poeira já cobriu.
Por uma fresta do passado
surge uma janela de vidros foscos,
teu rosto nela emoldurado
e uma canção assoviada sobre duas rodas.
De longe, teus olhos de âmbar adivinham meu sorriso,
e toda a minha vontade de transpor o muro
e voar,
romper aquele silêncio de promessas
camuflado pelo calor do verão.
Quantos passos em vão!
Outro dia sonhei com teu rosto me buscando no vento
e vi duas lágrimas solitárias,
colorindo-se nos raios do entardecer.
Tenho medo de nunca mais ver os teus olhos
nem sentir aquele brilho de inocência e de malícia.
Ontem um som estéril sussurrou-me uma notícia:
entre uma primavera e outra tu te despediste das flores.
Sei que as brumas ocultam surpresas
e, no difuso rumor dos passos,
esconde-se a eternidade.
Eu me recuso a erguer o véu da noite.
Quero plantar o que vivemos juntos
e colher lindas pegadas, na memória.

Basilina Pereira

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse texto!! Só mesmo uma pessoa com a sua sensibilidade poderia nos proporcionar uma leitura tão agradável.

Basilina disse...

Obrigada, Luzia,pela leitura e pelo comentário. É um prazer enorme compartilhar meus poemas com vocês, amigos tão queridos e especiais. Grande abraço.