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A PÁTRIA E A NUVEM
Choras hoje, mãe gentil?
Teus filhos semeiam passos
e esperam que a terra prometida por Caminha
não seja, para sempre, um campo ainda
a ser sulcado
e as sementes do milagre não venham a ser afanadas
pelos condores do poder.
Cada grão pilhado abre em mim uma cratera:
espanto, incredulidade, revolta!
Com a esperança que sobra,
invento um país nas nuvens
de onde possa chover decência
sobre nossos pés descalços.
Refaço, na mente e na carne,
a pergunta que se esconde atrás de mil portas
para não ser desvendada
se um dos grãos decidir germinar.
E cogito, num poema, que a verdade há de vir,
nossos pés terão sapatos,
nossas mãos saberão acolher e compartir
e os olhos, já sem descrença,
contemplarão dias de nuvens
que se farão belas para cortejar o sol.
Basilina Pereira
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