PALCO O amor é uma quimera ou algo que cabe na mão? Muitos nascem destinados a viver de ilusão, andam por praias desertas mergulham na escuridão, procuram peixes na areia, frutas fora da estação. Mas há os que colhem flores não importa o inverno ou verão nem quantas pedras leva o rio, se está livre o coração pra dançar com a lua cheia e espantar a solidão, amar até que toque o sino e apague com um beijo o vulcão que a vida sem sonho é nada, é palco sem emoção. Basilina Pereira
domingo, 27 de janeiro de 2013
CAPRICHOS DA VIDA Segue tua estrada torta, ó vida, além da porta existe um mar de caprichos em arabescos, em nichos, só perdendo pra esperança, tamanhos os fios que ela trança nesta floresta habitada por surpresas e mais nada. À frente, sol e poeira são tuas rotas verdadeiras no deserto do destino. Aqui chegaste, menino, cantaste a canção do mundo, mas um silêncio profundo tirou o brilho do encanto e sequer secou-te o pranto. E o amor com que sonhaste pegou da luz o contraste e, sem ver, jogou-o ao vento que turvou teu pensamento. Certas coisas ninguém nota é felicidade remota bem camuflada na história e no silêncio da memória. Basilina Pereira
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
O VERSO LIVRE Hoje enveredei pelos campos da saudade. Não queria, mas assim mesmo fui. ............................................................. Deixei de lado as cerimônias de adeus e pintei apenas a emoção do encontro: tão longe, tão próxima e real... Na minha tela mesclaram-se o seu sorriso da chegada o abraço e aquela sensação que não cabe em nenhuma palavra. Quem disse que o passado é poente não sabe do que é capaz um verso que transita livre pelas cores da memória. Basilina Pereira
sábado, 19 de janeiro de 2013
INCOERÊNCIAS Pode ser noite ou ser dia busco o regaço da lua mesmo o longe fica perto se o silêncio cobre a rua. Há lances claros no escuro do amanhã, coisa intrigante, altos...baixos todos têm. Basta ser perseverante? Onde estará tal resposta Não a encontro, todavia, se choro ou canto, quem sabe, será de dor...de alegria? É grande a minha ansiedade por um ídolo...uma musa que ilumine a minha a alma seque o pranto e me conduza do choro ao riso em instante: partes da mesma emoção, assim como o claro e o escuro dão equilíbrio à estação. E entre o começo e o fim segue o bailado da vida enquanto brilha a chegada, surdo é o farol na partida. Basilina Pereira
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
METAMORFOSE O poema gesta, mudo. Há dias em que ele se insurge em sua intumescência de feto e insinua-se, como Aurora, para logo amanhecer. Se alguém pensa que esse parto não dói é porque não percebeu o sofrimento da palavra, ao sair do casulo e virar poema. Basilina Pereira
EU QUERIA Hoje eu queria dançar num chão de nuvens, exorcizar todos esses sentimentos sem dono que em noites desertas me invadem o sono. Hoje eu queria sentir aqueles aromas ingênuos de terra sedenta, molhada, depois da chuva e sentir o barro entre meus dedos, sem luvas. Hoje eu queria esquecer as distâncias, a lembrança agasalhada no silêncio e a promessa que ficou presa num desvio. Hoje eu queria voar aprisionada nas palavras, libertar as estrelas de suas rotas estremadas e retratá-las na luz da madrugada. Hoje eu queria esquecer de um dia haver chorado, expulsar meus medos sem perder a calma e descobrir se a lágrima seca molha a alma. Basilina Pereira
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
O QUE FALTA? Estou entre o sim e o não, à procura de um talvez. Pode ser que essa dúvida, que amanheceu rangendo em minha palpitação seja a gota invisível que nada fala e tampouco cala. Quem sabe um ritmo novo de pulsar anule essa inquietação obscena que chega tão perto, mas não alcança, quer descobrir oque falta e não sabe como. Basilina Pereira
domingo, 13 de janeiro de 2013
QUANDO SURGE O AMOR... Vem no rabo de um cometa não sei se queima ou assopra de aluvião, sem espreita, abre de vez as comportas que estiveram represadas num chão de barro pisado, ergue-se em placas douradas: que venha vento ou tornado! Quando acontece o amor, todo o céu fica bordado a alma dança em esplendor é música pra todo lado. E de fagulha e encanto estremece a cordilheira, no horizonte cai o manto florescem as cerejeiras. A lua pede licença pra brilhar bem devagar e as estrelas, por nascença, são cúmplices, podem olhar. Basilina Pereira
sábado, 12 de janeiro de 2013
ADOLESCÊNCIA Não há segredo mais antigo a dispensar qualquer abrigo que a metamorfose da vida menos ...mais... sempre vencida pela beleza que desperta quando a estação é certa, é a força do mar revolto, corcel bravio e bem solto. É quando a casca macia desprende-se, quer alforria, lá fora o vento é procela mas cheira à doce canela. Nem todo o saber mutante explica a mágica do instante em que a criança arredia abre o laço da ousadia. Basilina Pereira
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
(RE)CAPITU(LANDO) Sigo a saga de Bentinho do seminário ao carinho que achou e que perdeu por ciúme, temor seu. De amigos a namorados ele e Capitu, apaixonados, casam-se na flor dos anos sem medos tolos,enganos. Depois de voto e altar veio o amigo Escobar viver com a esposa Sancha bem ali, na vizinhança. A vida segue seu curso sem reserva, sem discurso, até que as águas do mar levam um dia Escobar. Já no enterro do amigo surgem sinais de perigo uma dúvida bem cruel sobre o filho Ezequiel. Quanto mais o tempo passa mais se adensa a fumaça de uma possível traição da amada com o quase-irmão. Sucumbido pela dúvida Dom casmurro segue a turra: separa-se da família, com tortura, pega a trilha até o tempo levar, quem diria, sua esposa, filho e a alegria, restando a dúvida e lembranças opacas de uns certos olhos de ressaca. Basilina Pereira
PEGADAS O crepúsculo é a revoada do céu: aquele torpor que desce a montanha e cava um túnel no tempo pra resgatar o que a poeira já cobriu. Por uma fresta do passado surge uma janela de vidros foscos, teu rosto nela emoldurado e uma canção assoviada sobre duas rodas. De longe, teus olhos de âmbar adivinham meu sorriso, e toda a minha vontade de transpor o muro e voar, romper aquele silêncio de promessas camuflado pelo calor do verão. Quantos passos em vão! Outro dia sonhei com teu rosto me buscando no vento e vi duas lágrimas solitárias, colorindo-se nos raios do entardecer. Tenho medo de nunca mais ver os teus olhos nem sentir aquele brilho de inocência e de malícia. Ontem um som estéril sussurrou-me uma notícia: entre uma primavera e outra tu te despediste das flores. Sei que as brumas ocultam surpresas e, no difuso rumor dos passos, esconde-se a eternidade. Eu me recuso a erguer o véu da noite. Quero plantar o que vivemos juntos e colher lindas pegadas, na memória. Basilina Pereira
HOUVE UM TEMPO... Houve um tempo em que passeávamos de mãos dadas e as flores do jardim eram só nossas. Tu trazias nos olhos a cor da esperança e os meus cintilavam como o âmbar. Nenhuma tira de escuridão ameaçava nossos sonhos e não havia dias de chuva. Enquanto a luz brincava a nossa volta, nossos passos desfilavam em silêncio cheios de promessas e desejos. Mas uma nuvem cortou nosso caminho e nem houve o grito rúbeo de adeus, só listras de pimenta a me queimar a face e um cheiro agridoce condensado na saudade. Houve outros passos e tantas luas! Mas nenhum outro olhar foi como aquele: que nenhum silêncio conseguiu apagar. Basilina Pereira
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
BORBOLETAS Minhas borboletas querem voar, aspirar seu pouco tempo de cor e valsar levemente sobre o perfume que exala das manhãs de setembro. Presas por minha insegurança, elas tentam... Suas pétalas são frágeis e o meu receio muito grande (que falta faz um casulo de vento!) eu o levaria para além destas amarras, arriscaria ser uma nota na clave de sol e quando a música soasse eu seria apenas pés e asas, inaugurando as alegrias até então tatuadas no fundo das promessas. Basilina Pereira
A ESCOLHA Cai a noite. Enquanto a luz espreguiça escolhemos ver: um céu plúmbeo ou um horizonte de ouro. Pela fresta do olhar, metade de uma estrela espia se acaso não há, por ali, um ladrão de céu. E como prelúdio lunar vão surgindo nesgas de escuridão em formato evanescente dispostas a dançar com as nuvens enquanto decidimos se queremos sonhar com as flores ou esperar amanhecer. Basilina Pereira
PARÊNTESE Em meio a uma nesga de saudade abro um parêntese e eis que surge a verdade de um amor evanescente que surgiu em tom lilás, estrela única entre mil. E mudou minhas palavras desbotadas, regou as nuvens que fugiam para o nada, plantou flores e fez um jardim só nosso, me trouxe a lua...Ah! lembrar ainda posso. Roubou meu chão, meu porto, minha lucidez, num céu de plumas disse que era a minha vez de ser aurora, borboleta, sempre-viva, no estuário do céu a sua diva. Mas me lembro que é hora de fechar o sinal que de longe fez buscar essa lembrança, misto de dor e prazer, que vai e volta, independente do querer. Basilina Pereira
UM MODO Entre fogos e ranger de taças ele chegou, gratuitamente. Um modo de dizer: Alô! eu de novo? engano certo. Somos dois estranhos que, por acaso, já se viram mas nossa linhas não se tocaram. Foi no solstício passado que uma saudade me avisou do susto de nunca mais ser igual, da ilusão de que ontem pode brotar do ócio e reaver os sonhos, aqueles que nunca mais. Basilina Pereira