quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

PALCO


PALCO

O amor é uma quimera
ou algo que cabe na mão?
Muitos nascem destinados
a viver de ilusão,
andam por praias desertas
mergulham na escuridão,
procuram peixes na areia,
 frutas fora da estação.

Mas há os que colhem flores
não importa o inverno ou verão
nem quantas pedras leva o rio,
se está livre o coração
pra dançar com a lua cheia
e espantar a solidão,
amar até que toque o sino
e apague  com um beijo o vulcão
que a vida sem sonho é nada,
é palco sem emoção.

Basilina Pereira

domingo, 27 de janeiro de 2013


CAPRICHOS DA VIDA 

Segue tua estrada torta,
ó vida, além da porta
existe um mar de caprichos
em arabescos, em nichos,

só perdendo pra esperança,
tamanhos os fios que ela trança
nesta floresta habitada
por surpresas e mais nada.

À frente, sol e poeira
são tuas rotas verdadeiras
no deserto do destino.
Aqui chegaste, menino,

cantaste a canção do mundo,
mas um silêncio profundo
tirou o brilho do encanto
e sequer secou-te o pranto.

E o amor com que sonhaste
pegou da luz o contraste
e, sem ver, jogou-o ao vento
que turvou teu pensamento.

Certas coisas ninguém nota
é felicidade remota
bem camuflada na história
e no silêncio da memória.

Basilina Pereira

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


O VERSO LIVRE

Hoje enveredei pelos campos da saudade.
Não queria, mas assim mesmo fui.
.............................................................

Deixei de lado as cerimônias de adeus
e pintei apenas a emoção do encontro:
tão longe, tão próxima e real...

Na minha tela mesclaram-se
o seu sorriso da chegada
o abraço e aquela sensação
que não cabe em nenhuma palavra.

Quem disse que o passado é poente
não sabe do que é capaz um verso
que transita livre
pelas cores da memória.

Basilina Pereira

sábado, 19 de janeiro de 2013


INCOERÊNCIAS

Pode ser noite ou ser dia
busco o regaço da lua
mesmo o longe fica perto
se o silêncio cobre a rua.

Há lances claros no escuro
do amanhã, coisa intrigante,
altos...baixos todos têm.
Basta ser perseverante?

Onde estará tal resposta
 Não a encontro, todavia,
se choro ou canto, quem sabe,
será de dor...de alegria?

É grande a minha ansiedade
por um ídolo...uma musa
 que ilumine a minha a alma
seque o pranto e me  conduza

do choro ao riso em instante:
partes da mesma emoção,
assim como o claro e o escuro
dão equilíbrio à estação.

E entre o começo e o fim
segue o bailado da vida
enquanto brilha a chegada,
surdo é o farol na partida.

Basilina Pereira

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


METAMORFOSE

O poema gesta, mudo.
Há dias em que ele se insurge
em sua intumescência de feto
e insinua-se, como Aurora,
para logo amanhecer.

Se alguém pensa
 que esse parto não dói
é porque não percebeu 
o sofrimento da palavra,
ao sair do casulo
e virar poema.

Basilina Pereira

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

EU QUERIA


EU QUERIA

Hoje eu queria dançar num chão de nuvens,
exorcizar todos esses sentimentos sem dono
que em noites desertas me invadem o sono.

Hoje eu queria sentir aqueles aromas ingênuos
de terra sedenta, molhada, depois da chuva
e sentir o barro entre meus dedos, sem luvas.

Hoje eu queria esquecer as distâncias,
a lembrança agasalhada no silêncio
e a promessa que ficou presa num desvio.

Hoje eu queria voar aprisionada nas palavras,
libertar as estrelas de suas rotas estremadas
e retratá-las na luz da madrugada.

Hoje eu queria esquecer de um dia haver chorado,
expulsar meus medos sem perder a calma
e descobrir se a lágrima seca molha a alma.

Basilina Pereira

terça-feira, 15 de janeiro de 2013


O QUE FALTA?

Estou entre o sim e o não,
à procura de um talvez. 
Pode ser que essa dúvida, 
que amanheceu rangendo em minha palpitação 
seja a gota invisível que nada fala e tampouco cala.
Quem sabe um ritmo novo de pulsar
anule essa inquietação obscena que chega tão perto, mas não alcança,
quer descobrir oque falta e não sabe como.

Basilina Pereira

domingo, 13 de janeiro de 2013


QUANDO SURGE O AMOR...

Vem no rabo de um cometa
não sei se queima ou assopra
de aluvião, sem espreita,
abre de vez as comportas

que estiveram represadas
num chão de barro pisado,
ergue-se em placas douradas:
que venha vento ou tornado!

Quando acontece o amor,
todo o céu fica bordado
a alma dança em esplendor 
é música pra todo lado.

E de fagulha e encanto
estremece a cordilheira, 
no horizonte cai o manto
florescem as cerejeiras.

A lua pede licença
pra brilhar bem devagar
e as estrelas, por nascença,
são cúmplices, podem olhar.

Basilina Pereira

sábado, 12 de janeiro de 2013


ADOLESCÊNCIA

Não há segredo mais antigo
a dispensar qualquer abrigo
que a metamorfose da vida
menos ...mais... sempre vencida

pela beleza que desperta
quando a estação é certa,
é a força do mar revolto,
corcel bravio e bem solto.

É quando a casca macia
desprende-se, quer alforria,
lá fora o vento é procela
mas cheira à doce canela.

Nem todo o saber mutante
explica a mágica do instante
em que a criança arredia
abre o laço da ousadia.

Basilina Pereira

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


(RE)CAPITU(LANDO)

Sigo a saga de Bentinho
do seminário ao carinho
que achou e que perdeu
por ciúme, temor seu.

De amigos a namorados
ele e Capitu, apaixonados,
casam-se na flor dos anos
sem medos tolos,enganos.

Depois de voto e altar
veio o amigo Escobar
viver com a esposa Sancha
bem ali, na vizinhança.

A vida segue seu curso
sem reserva, sem discurso,
até  que as águas do mar
levam um dia Escobar.

Já no enterro do amigo
surgem sinais de perigo
uma dúvida bem cruel
sobre o filho Ezequiel.

Quanto mais o tempo passa
mais se adensa a fumaça
de uma possível traição
da amada com o quase-irmão.

Sucumbido pela dúvida
Dom casmurro segue a turra:
separa-se da família,
com tortura, pega a trilha

até o tempo levar, quem diria,
 sua esposa, filho e a alegria,
restando a dúvida e lembranças opacas
de uns certos olhos de ressaca.

Basilina Pereira

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PEGADAS


PEGADAS

O crepúsculo é a revoada do céu:
aquele torpor que desce a montanha
e cava um túnel no tempo
pra resgatar o que a poeira já cobriu.
Por uma fresta do passado
surge uma janela de vidros foscos,
teu rosto nela emoldurado
e uma canção assoviada sobre duas rodas.
De longe, teus olhos de âmbar adivinham meu sorriso,
e toda a minha vontade de transpor o muro
e voar,
romper aquele silêncio de promessas
camuflado pelo calor do verão.
Quantos passos em vão!
Outro dia sonhei com teu rosto me buscando no vento
e vi duas lágrimas solitárias,
colorindo-se nos raios do entardecer.
Tenho medo de nunca mais ver os teus olhos
nem sentir aquele brilho de inocência e de malícia.
Ontem um som estéril sussurrou-me uma notícia:
entre uma primavera e outra tu te despediste das flores.
Sei que as brumas ocultam surpresas
e, no difuso rumor dos passos,
esconde-se a eternidade.
Eu me recuso a erguer o véu da noite.
Quero plantar o que vivemos juntos
e colher lindas pegadas, na memória.

Basilina Pereira

sábado, 5 de janeiro de 2013

HOUVE UM TEMPO


HOUVE UM TEMPO...

Houve um tempo em que passeávamos de mãos dadas
e as flores do jardim eram só nossas.
Tu trazias nos olhos a cor da esperança
e os meus cintilavam como o âmbar.
Nenhuma tira de escuridão ameaçava nossos sonhos
e não havia dias de chuva.
Enquanto a luz brincava a nossa volta,
nossos passos desfilavam em silêncio
cheios de promessas e desejos.
Mas uma nuvem cortou nosso caminho
e nem houve o grito rúbeo de adeus,
só listras de pimenta a me queimar a face
e um cheiro agridoce condensado na saudade.
Houve outros passos e tantas luas!
Mas nenhum outro olhar foi como aquele:
que nenhum silêncio conseguiu apagar.

Basilina Pereira

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


BORBOLETAS

Minhas borboletas querem voar,
aspirar seu pouco tempo de cor
e valsar levemente sobre o perfume 
que exala das manhãs de setembro.
Presas por minha insegurança, elas tentam...
Suas pétalas são frágeis e o meu receio muito grande
(que falta faz um casulo de vento!)
eu o levaria para além destas amarras,
arriscaria ser uma nota na clave de sol
e quando a música soasse eu seria apenas pés e asas,
inaugurando as alegrias
até então tatuadas no fundo das promessas.

Basilina Pereira

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A ESCOLHA


A ESCOLHA

Cai a noite.
Enquanto a luz espreguiça 
escolhemos ver:
um céu plúmbeo
ou um horizonte de ouro.
Pela fresta do olhar,
metade de uma estrela espia
se acaso não há, por ali,
um ladrão de céu.
E como prelúdio lunar
vão surgindo nesgas de escuridão
em formato evanescente
dispostas a dançar com as nuvens
enquanto decidimos
se queremos sonhar com as flores
ou esperar amanhecer.

Basilina Pereira

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

PARÊNTESE


PARÊNTESE

Em meio a uma nesga de saudade
abro um parêntese e eis que surge a verdade
de um amor evanescente que surgiu
em tom lilás, estrela única entre mil.

E mudou minhas palavras desbotadas,
regou as nuvens que fugiam para o nada,
plantou flores e fez um jardim só nosso,
me trouxe a lua...Ah! lembrar ainda posso.

Roubou meu chão, meu porto, minha lucidez,
num céu de plumas disse que era a minha vez
de ser aurora, borboleta, sempre-viva,
no estuário do céu a sua diva.

Mas me lembro que é hora de fechar
o sinal que de longe fez buscar
essa lembrança, misto de dor e prazer,
que vai e volta, independente do querer.

Basilina Pereira

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

UM MODO


UM MODO

Entre fogos e ranger de taças
ele chegou, gratuitamente.
Um modo de dizer:
Alô! eu de novo?
engano certo.
Somos dois estranhos
que, por acaso, já se viram
mas nossa linhas não se tocaram.
Foi no solstício passado
que uma saudade me avisou do susto
de nunca mais ser igual,
da ilusão de que ontem
pode brotar do ócio e reaver os sonhos,
aqueles que nunca mais.

Basilina Pereira