segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

FAGULHA

 
FAGULHA

Uma força irrompe
como o fogo do ventre da terra
e se instala no fundo do olhar, no ventre da boca,
entre o gesto involuntário
e o esboço da palavra ceifada antes do som.
Difícil domar essa fagulha
que ora parece sensível ao apelo do perdão,
mas logo se retrai, exacerbada,
centelha intrínseca de memória crua,
incrustada a ferro nas veias do sentimento.
E a vida se debate entre a adaga (que esfola a carne)
e o gume (que lasca por dentro).
Uma linha tênue assinala esse limite,
refém do tempo e seus prodígios:
há troncos que se recompõem
na sutileza do abraço entre a casca e a raiz;
outros, porém, continuam à espera de que a seiva
não se perca em nenhum atalho.


Basilina Pereira

Um comentário:

Denise Moraes disse...

Belíssimo, profundo como todos os seus escritos. Maravilha.
Denise Moraes