FAGULHA
Uma força irrompe
como o fogo do ventre da terra
e se instala no fundo do olhar,
no ventre da boca,
entre o gesto involuntário
e o esboço da palavra ceifada
antes do som.
Difícil domar essa fagulha
que ora parece sensível ao apelo
do perdão,
mas logo se retrai, exacerbada,
centelha intrínseca de memória
crua,
incrustada a ferro nas veias do
sentimento.
E a vida se debate entre a adaga
(que esfola a carne)
e o gume (que lasca por dentro).
Uma linha tênue assinala esse
limite,
refém do tempo e seus prodígios:
há troncos que se recompõem
na sutileza do abraço entre a
casca e a raiz;
outros, porém, continuam à espera
de que a seiva
não se perca em nenhum atalho.
Basilina Pereira
Um comentário:
Belíssimo, profundo como todos os seus escritos. Maravilha.
Denise Moraes
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