RETRATOS
Esmaecida no fundo da memória
a lembrança pálida do primeiro amor,
são fragmentos de uma velha história
que um dia encheu minha taça de flor.
Real e contundente emerge outra imagem
que em solidão errante me fez companhia,
áspero amor, que escoltou minha viagem
e só a lua restou por fantasia.
Após a chuva e um coração partido,
feito um relâmpago surge a ilusão
eis que vislumbro no instante devido
sinais temerosos de uma nova paixão.
Como o vento norte que não tem barreiras
outra breve miragem vejo em minha vida
sem rosto, sem alma e de qualquer maneira,
mal chega, desliza e já é a partida.
Percebo, adiante, qual ferro em brasa,
o vulto do amor que veio e passou,
não sem antes me levar as asas
que a onda indócil da desilusão ceifou.
No outro canto há um lugar vazio
dos momentos poucos que não pude colar
trago-os na lembrança como o saldo frio
de uma ausência viva e de muito esperar.
Tento, ao final, definir a imagem
que a vida me deu e o tempo esculpiu
o espelho reflete emoção e coragem
no rosto que amou, viveu e sentiu.
Basilina Pereira
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