CANTO NA NOITE
Ouço um canto, desatento,
não sei bem de onde vem
parece triste, um lamento
um consolo pra ninguém.
Penso na voz que me acorda
em plena noite de luar
nas mágoas que ela transborda
como o silêncio a gritar.
Devolvo a canção pro vento,
espalho perguntas no ar
quem manda no sentimento
que faz o outro chorar?
Espero a resposta da noite
e da manhã que vai chegar
quem sabe um golpe, um açoite
e a sorte pode mudar?
Muda o tempo, o poço é fundo
há tantas pedras pra pisar
só acho as voltas do mundo
e um ponto longe pra chegar.
Basilina Pereira
sábado, 17 de novembro de 2007
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
QUISERA
QUISERA
Quisera te encontrar na primavera
num crepúsculo casual feito quimera
e seguir de mãos dadas pelos campos,
evocando perto e longe os pirilampos.
Sorver as sensações doces e quentes
que percorrem a alma, corpo e mente,
quando a paixão explode em tarde calma
colher o fruto que nasceu da palma.
Quisera te seguir nas tardes tortas,
abrir janelas e fechar as portas,
quando o verão acende os poros, confiante,
e ser tua gueixa, concubina, eterna amante.
Secar tuas lágrimas com a luz do luar,
ser o teu fogo até o inverno passar,
tocar a harpa, se te sentir triste
e descobrir que o outono não existe.
Quisera viver contigo toda a vida
com a simplicidade complicada e esquecida
dos amantes que valsaram à luz do dia
sobre as rimas e o encanto da poesia.
Basilina Pereira
domingo, 11 de novembro de 2007
EMOÇÃO
EMOÇÃO
Como barrar uma emoção
quando um caudal transpõe a barreira
da lucidez
e fruições infinitas transbordam
por olhos indefesos,
embriaguez.
Diante da paixão, todos os sentimentos são tolos.
Feito aves de arribação, voa, célere,
a sensatez
Com requintes de frenesi,
perdem-se os nossos sentimentos,
mais uma vez,
feito ondas de aluvião e à mercê do deus Termo[1],
disparam impulsos errantes até o limite
da turgidez.
Indecifráveis caminhos percorrem os nossos neurônios
guiados somente pelo impulso,ou pela magia,
talvez.
Basilina Pereira
[1] Na mitologia romana, deus que protegia os limites, representado por um grande marco de pedra.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
RETRATOS
Esmaecida no fundo da memória
a lembrança pálida do primeiro amor,
são fragmentos de uma velha história
que um dia encheu minha taça de flor.
Real e contundente emerge outra imagem
que em solidão errante me fez companhia,
áspero amor, que escoltou minha viagem
e só a lua restou por fantasia.
Após a chuva e um coração partido,
feito um relâmpago surge a ilusão
eis que vislumbro no instante devido
sinais temerosos de uma nova paixão.
Como o vento norte que não tem barreiras
outra breve miragem vejo em minha vida
sem rosto, sem alma e de qualquer maneira,
mal chega, desliza e já é a partida.
Percebo, adiante, qual ferro em brasa,
o vulto do amor que veio e passou,
não sem antes me levar as asas
que a onda indócil da desilusão ceifou.
No outro canto há um lugar vazio
dos momentos poucos que não pude colar
trago-os na lembrança como o saldo frio
de uma ausência viva e de muito esperar.
Tento, ao final, definir a imagem
que a vida me deu e o tempo esculpiu
o espelho reflete emoção e coragem
no rosto que amou, viveu e sentiu.
Basilina Pereira
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
O GRITO
Pasma a criança à frente do Universo,
sente o instante em que seguir é tudo,
qual o teu canto, em mundo tão disperso?
Na foz do eco não vale ficar mudo.
O acaso é a dança onde tentar se impõe,
um novo passo é preciso criar,
cada caminho é único, outro não dispõe
da estrada certa pra vida passar.
Cada flor colhida manchará os vales
com cinzas mortas, dispersas no além,
galhos famintos cobertos por xales
em tons diversos chorarão também.
O vento seco que ruge adiante
quer a vereda, a canção e o verso,
haverá sinais, estrela brilhante
pra indicar na terra o destino certo?
Cada resposta não será pra todos,
importa mais se ousei e vivi,
finca no topo o teu mastro de fogo
e grita ao mundo: eu estive aqui!
Basilina Pereira
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
A ORQUÍDEA
Diz certa lenda chinesa
que uma jovem de rara beleza
amava com toda a emoção
um moço de bom coração.
Quando um feitiço cruel
sobre esse amor se abateu
um deles chorou de dor
e o outro tornou-se flor.
Surge a orquídea, que beleza,
sem querer, mas é certeza,
pra viver eternamente
ao lado de seu amante.
Suas cores, seu perfume
têm nuances de amor e ciúme
desafiam qualquer aquarela
porque são sempre mais belas.
Só mesmo pela magia,
sob o luar ou à luz do dia,
explica-se todo o encanto
dessa flor deslumbramento.
Basilina Pereira
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