NO DORSO DO VENTO
No seio da terra,
tudo era promessa: plantar no escuro
para colher no ventre da próxima estação.
Vieram as aves, o sol
e tempo encolheu-se despois do susto.
Na lava chuva,
longe era um lugar que desafiava os caminhos,
abria os horizontes num emaranhado de cores
e todas as possibilidades
latejavam no fundo das pálpebras.
No dorso do vento,
senti todas as dores dos que caem
e não têm forças para voltar nem seguir.
O que ficou foi rejeitado pelo esquecimento
e o futuro não se vestia de esperança.
Nas bordas da sombra,
vaguei por becos irregulares,
tateando entre um pingo de luz
e a promessa de uma clara alvorada
que não tinha como alcançar.
Nos entremeios do sono,
voei sobre ravinas e penhascos
atrás dos sonhos em que me fizessem acreditar:
o amor é a dimensão maior da vida
e acontece de olhos abertos.
Mas ao abraçar a coragem,
descobri raras galáxias, sem limites,
e numa noite clara eu pressenti:
o impossível é só o medo
de desprender as asas e partir.
Basilina Pereira