quarta-feira, 15 de maio de 2013

O CORPO

O CORPO

O corpo é textura,
é silêncio que fala
quando a boca cala.
O corpo é lago,
é penumbra...
no compasso flutua,
em estreitos se entrega.
O peito que arfa acende o céu
da boca que se abre no prazer
de ser eterna e doce:
inteiramente fogo
enquanto riso.
As mãos desmancham-se em toques,
retoques de ternura,
na procura do ventre que cresce
entre o teu compasso e o meu.

Basilina Pereira


FRENTE E VERSO

FRENTE E VERSO

Só são palavras
que aderem devagar e sem rumor.
Quem desconhece esse poder está isento,
só vê no espelho a mesma pele
que esconde cicatrizes antigas,
submersas em seu casulo.
São só palavras...palavras...
Frente e verso de um rosário
que define o excesso do que falta.
Seu eco por vezes volta,
mas não extingue a solidão.
A dor vem do espinho fincado na cortina
que esconde as mágoas
e só eu sei do retrocesso...
do tempo que não cura a ferida
e dessa angústia que ergue colunas.

Basilina Pereira

segunda-feira, 13 de maio de 2013

ADIVINHAÇÃO


ADIVINHAÇÃO.

Foi um vulcão encimado na distância.
Sem toque.
Sem calor.

Só a visão turvada pelo desejo,
aquela ânsia avessa
por delírios. Adivinhação.

Se teu toque tem carícias de veludo ninguém diz,
mas eu arrisco minha rede em águas fundas.
A incerteza tem seu tanto
de loucura - mais.

Basilina Pereira

NADA A DECLARAR

NADA A DECLARAR

Já não sei quantos amores habitei.
Alguns fixaram-se na parede
feito o gato da minha infância
que descobriu um buraco no assoalho
para assoprar o meu sono
e se aquecer...se aquecer.
Depois, alguns outros...
como os lábios que molhavam minha espera,
na provocação do néctar e do arrepio.
Velas ao vento.
Oscilam entre a dúvida e a esperança: presas fáceis,
uma a uma de qualquer vento forasteiro.
E por fim - um asteróide
que abriu um buraco no tempo
e só.
Nada mais a declarar.

Basilina Pereira


quarta-feira, 8 de maio de 2013

POEMA SURREAL

POEMA SURREAL

Se imagino o outro lado?
É claro que não,
mas ele me instiga, às vezes!
É quando eu sinto o sangue correr,
mesmo congelado.
Vejo todas as cores se vestindo de gris
e uma paisagem surreal
dança por entre os arbustos,
enquanto um coro de anjos
balança as folhas do tempo.
Entre o sim e o não eu me pergunto:
onde está o amor
que um dia uniu seu corpo à minha alma?

Basilina Pereira


terça-feira, 7 de maio de 2013

POR UM TRIZ

POR UM TRIZ

Quem é esta que,
de repente,
faz o que não devia
e nunca se arrepende?
Acaso sei a diferença
entre o certo e o errado?
Recuso-me a ler as placas
onde o letreiro
afronta a minha direção.
Eu acredito!
E minha fé garante a ousadia.

Basilina Pereira

segunda-feira, 6 de maio de 2013

GESTUAIS


GESTUAIS

A cada manhã me levanto
e, feito uma sombra,
percorro o espaço
entre o meu chinelo e o seu.
Um pequeno toque
e a distância de que preciso
abre-se em constelações.
Passos se sucedem, gestos
e silêncios.
A rotina inibe a fala
e esta, por sua vez,
cultiva a inércia,
onde já não brotam surpresas.
Pelos cantos do dia,
o chamado mudo da noite
e cada vez mais
a distância se bifurca.

Basilina Pereira

AJUSTE

AJUSTE

Felicidade é quando um verso
encontra o seu lugar no poema
ou quando um olhar se espelha no outro
e a melodia está completa.

Basilina Pereira

domingo, 5 de maio de 2013

DESCARTE


DESCARTE

Ouça
por um instante
o que lhe diz o sentimento.
Sinta
por um momento só
o sopro lento que lhe balança a alma.
Descubra um meio
de voltar no tempo
e recolher
todas as palavras amargas
com que você me ungiu
e eu não consigo descartar.

Basilina Pereira

O QUE SE VÊ NA TV

O QUE SE VÊ NA TV

Vejo um grito passando
ouço um cheiro de passos,
sinto corações vazados, exangues,
transmutados em montanhas de pedras
como se abrigassem sentimentos cor de ossos.
Estremeço.
Percebo que as árvores se vestem de neve
e a verdade sangra como um embrulho rasgado.
A janela me exibe uma cortina de chuva,
e é tudo que me foi entregue pela tarde.
Estou em frente à televisão e sorrisos famintos,
gritam palavras pesadas
que estalam feito cascatas de chumbo.
Assustada, penso no vento, tão leve, tão livre,
mas só há uma pechincha de brisa
e uma sala cheia de perguntas:
todas sobre o mesmo torpor
que sobrevoa o noticiário

Basilina Pereira

sábado, 4 de maio de 2013

POEMA PROTESTO

POEMA PROTESTO

Eu sou a vazão:
poesia protesto
chamada à razão
nas linhas do verso.

Posso conter rimas
Cruzadas, ou não,
contanto que o ímã
não caia no chão.

Digo não à violência
bandido e ladrão
do pobre à Excelência
- não à corrupção!

Censura aos impostos,
além dos limites
todos em seus postos
apurem o palpite:

Limar certo e bem
o dinheiro do povo,
pois muitos não têm
a chance de novo.

Se este é meu eco
que chegue bem longe,
pois não sou boneco
nem veste de monge.

Exijo respeito,
trabalho e saúde,
escola, bom leito
e quem sempre ajude

de fato a pobreza,
a miséria ofende
que fique a certeza
da chama que acende.

Aquela que alcança
a fé dos Senhores,
a vida, a esperança
em dias melhores.

Basilina Pereira

quinta-feira, 2 de maio de 2013

POEMETOS

POEMETOS
I
Tentar prever o poema
é ter a alma pequena
quando o verso é pensado
a emoção vira de lado.
II
Sou água da fonte
fagulha no vento
pergunto ao monte
onde está o momento.
III
Passei por aqui.
Vi nuvens,
vi pássaros,
lágrimas em cachoeiras,
mas poucas e raras
emoções verdadeiras.

Basilina Pereira