ALCANCE
Chove lá fora.
Nuvens desabam sobre lembranças acesas
onde a verdade prende a respiração
para não sucumbir diante da farsa.
A bala destravada atira-se contra a pouca
sensatez do lobo
que até ontem queria ser cordeiro.
E ainda quer, mas sua pele mudou de cor
e sua mão desprendeu-se do galho
onde os bombardeios não chegavam.
Chove aqui dentro.
Nuvens decoram a solidão que ora se inaugura.
Só a poesia segue isenta e limpa.
Mesmo que desliguem todos os pássaros
e apaguem todas as cores,
haverá um verso que se unirá a outro
e a pedra deixará de ser o que sempre foi
para se tornar metáfora.
Basilina Pereira
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