segunda-feira, 29 de maio de 2017

A VIAGEM

A VIAGEM

Cortejar o sol com o melhor sorriso,
abaná-lo com as nuvens mais límpidas
e olhar a vida como um milagre
que pode apagar-se a qualquer a momento.
Abraçar quem lhe importa,
como se estivesse protegendo-se da tempestade,
ser suave nas críticas e avesso a julgamentos.
A viagem é curta
e a paisagem que se mostra pela janela é única,
assim como o momento não compartilhado,
o carinho não repartido.
Amizade, amor, afeto
são dádivas que não devem ser sonegadas,

mas transformadas em eternidades.

Basilina Pereira

quinta-feira, 25 de maio de 2017

A VIDA

A VIDA

Chega assim, banhada de orvalho,
notícia de uma porta que se fecha.
Para onde agora a vida?
Não mais o fio de hálito entre a mão e maçaneta,
não mais a hora inteira pronta a se desfiar em vértices,
todos atrelados ao ranger trava.
Como desvendar razão que assiste ao outro lado,
que chama mais alto que o estar aqui?
Trilhar este caminho é graça e ventura,
um fio de tempo que nunca recua,
uma flor que se abre única vez,
como a nuvem que desenha por instantes
a beleza  que se esvai, qual pensamento.


Basilina Pereira

domingo, 21 de maio de 2017

ALCANCE

ALCANCE

Chove lá fora.
Nuvens desabam sobre lembranças acesas
onde a verdade prende a respiração
para não sucumbir diante da farsa.
A bala destravada atira-se contra a pouca sensatez do lobo
que até ontem queria ser cordeiro.
E ainda quer, mas sua pele mudou de cor
e sua mão desprendeu-se do galho
onde os bombardeios não chegavam.
Chove aqui dentro.
Nuvens decoram a solidão que ora se inaugura.
Só a poesia segue isenta e limpa.
Mesmo que desliguem todos os pássaros
e apaguem todas as cores,
haverá um verso que se unirá a outro
e a pedra deixará de ser o que sempre foi
para se tornar metáfora.


Basilina Pereira

segunda-feira, 15 de maio de 2017

SEGUNDA-FEIRA

SEGUNDA-FEIRA

A luz abraça o novo dia
e os olhos, surpresos com o sopro da manhã,
recolhem o sono da véspera e abraçam as vozes
que respingam pela penumbra do quarto.
Ainda com vestígios de noite,
lembro-me: segunda-feira,
tenho de apagar o escuro,
acelerar a alegria que ontem desembrulhei com cuidado
e quebrar os seixos que escurecem a travessia.


Basilina Pereira

segunda-feira, 8 de maio de 2017

RECOMEÇO

RECOMEÇO

Não é sempre que se pode recomeçar.
Há perdas que são coices de cavalo selvagem
sobre a última centelha de luz,
areia movediça à espreita do primeiro descuido.
Mas se o dia seguinte vier com chuva na janela
e a grama acender a tocha verde no jardim,
então, quem diria!
até os seixos poderão cantar nos telhados,
ao som da flauta que reabre a vida.


Basilina Pereira

domingo, 7 de maio de 2017

POEMETO DO DESTINO

POEMETO DO DESTINO

Se Deus planta o certo em alas tortas
e o homem desperdiça o que colheu,
não é culpa do destino a letra morta
o amor passou e você não percebeu.
A estrada, às vezes, bifurca na lombada,
compete ao senso a escolha nessa hora
os descaminhos são o avesso da moeda
e a trilha certa pode, sim, ser encontrada.


Basilina Pereira