terça-feira, 31 de janeiro de 2017

SONHO POSSÍVEL

SONHO POSSÍVEL

Toda estrada é possível
se a palavra não se recolhe ao silêncio.
A mão estendida espelha o bailado das nuvens
e atrai o painel das estrelas,
atentas ao seu ofício de brilhar.
Se o impossível rodopia próximo,
mister acordar o lado poeta da mente
onde o sonho é um mormaço lírico,
que beija o verso antes da poesia.


Basilina Pereira

domingo, 29 de janeiro de 2017

POEMA INTERDITADO

POEMA INTERDITADO

Às vezes o poema emudece.
A mente, estiolada,
rende-se ao extravio da palavras
no campo minado da emoção.
A vida nem sempre se deixa soletrar
junto à foz de um olho sem brilho
ou por entre fendas aceleradas
onde palpita um resto de coração.
A hora mastiga o escuro e espera,
o que fazer quando se quer, mas não se pode?


Basilina Pereira

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

RUMO

 
RUMO

Não olho para trás.
Pode ser que as pegadas reclamem
aquela atenção inútil
que deixei escondida sob uma pedra.
Mais à frente, profetizo:
um passo...outro...e outro...
Haverá, com certeza,
algum lugar no horizonte
mesmo que ainda não tenha sido avistado.


Basilina Pereira

domingo, 22 de janeiro de 2017

INTENSIDADE

INTENSIDADE

O poema não precisa ser extenso,
basta a palavra convicta e uma fenda na emoção
para que a poesia possa entrar.

Basilina Pereira

sábado, 21 de janeiro de 2017

PEÇO VÊNIA

PEÇO VÊNIA

Poucos gostam de poesia,
já foi dito e alardeado.
Pelas vertentes do meu dia
discordo em versos rimados.

Haverá alguém tão insensível
que não contemple o poente?
ou não persiga o impossível
se do amor está descrente?

Aí esta a poesia: no milagre do momento
em que o olhar abre a cortina,
o coração abraça o vento
e o sentimento germina.

Basilina Pereira

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

LUMINESCÊNCIA

LUMINESCÊNCIA

Era para regares a madrugada,
assim a flor desceria da lua
e cobriria meus sonhos de cores.
Não era para haver sombras,
mas o toque indelével do teu sono
nas entrelinhas da minha mão.
E quando o teu nome cobrisse o meu
no ventre sutil da respiração
não existiria solidão,
apenas um eco a sussurrar
o quanto brilha um afeto

que se doa sem ressalva e condição.

Basilina Pereira

domingo, 15 de janeiro de 2017

À procura da poesia

À PROCURA DA POESIA

Um sentimento derriçado
uma voz que não ressoa
um vazio abarrotado
de perguntas destelhadas
ressoam aqui neste branco espaço
que ainda não se cumpriu.
Uma tenção, uma história, um percurso
andam soltos à procura do poema
que mão alguma escreveu.
Longa aventura, por certo,
esta epopeia sem trama
que implora por cor e nome.
Mas quando o poeta aboiar
o verso com que sonhou
em seu íntimo brotará a poesia,
sem palavra ou explicação.


Basilina Pereira

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

CAMPO DE POESIA

CAMPO DE POESIA

Frágil marfim,
um abraço não correspondido,
um solo perdido na floresta de severas frustrações.
Quanto custa amar uma palavra?
Fazer dela o substrato do verso,
um sonho de pontas luminosas
que guiará o poema durante as estações escuras?
À vezes é o vento que ameaça,
por outras... a indiferença.
Ao poeta resta a esperança
de sobrevoar a matéria
e ser enterrado num campo de poesia.


Basilina Pereira

domingo, 8 de janeiro de 2017

PARA SEMPRE

PARA SEMPRE

Ser para siempre, pero no haber sido – Jorge Luis Borges

Sei que um dia deixará de ser para sempre,
o verde mudará de cor
e a janela não se abrirá frente ao jardim.
Mas em algum lugar haverá outras mãos,
vermelhas de urgência, suadas de emoção
e quando delas brotar o encontro,

lá estaremos, você e eu.


Basilina Pereira

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

POR AMOR

POR AMOR

Era só uma ideia
cheia de anseios e divagações,
viajando pelas ondas do verso
e pelos mistérios do sol.
Sua voz bordava meu nome
e o eco que retornava trazia todas as dúvidas
enfeixadas num ramalhete de perguntas.
Seria amor? Quantas vezes pisamos em falso, caímos,
atrás da flor que desabrocha com cheiro de chuva
e, às vezes, murcha, logo que a noite acorda.
Incerto sentimento: esse,
mas é por ele que a vida floresce.


Basilina Pereira

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

DESENCANTO

DESENCANTO

Um verso que não encontra a rima
uma flor que afugenta a abelha
uma vida empalhada em dias
onde não pousa nenhuma poesia.
Um bicho morto que ainda respira.
Quer rezar, mas a fé é feita de nuvem,
a prece se desfaz em lágrimas
e o dia não amanhece.
O rio corre por dentro,
levando as dúvidas e os desencantos,
o que mais ele pode fazer?
Escrever ainda é a mão que abre a janela
para que a brisa possa simular um carinho.


Basilina Pereira