sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FIAÇÃO


FIAÇÃO
 
Não sei se a dor chegou com a tarde
 ou com o vento
que balançou as cortinas do tempo
e fez voar a poeira que parecia dormente,
camuflada entre os lapsos de silêncio.
Ou talvez ela tenha voltado pra espantar o limbo
que vivia a escoltar meus pensamentos
perdidos entre o resto de memória.
O tempo é traiçoeiro.
Se por um lado ele eterniza momentos
desafiando o muro dos séculos,
há o perigo incrustado nos enredos efêmeros
quando o corpo e o espírito, submissos,
descuidam da tessitura do veio,
deixando uma nesga entreaberta.
Lembranças, por que regressam?
Estavam tão bem guardadas!
 
Basilina Pereira

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

AS HORAS

Escuto a linguagem da noite
como se buscasse no tempo
os sonhos incandescentes
que desafiam o tic-tac do relógio.

Além do orvalho esquivo
que se recusa a regar meus pensamentos
despontam lembranças ingratas,
 mutáveis, mas assim mesmo tão ferinas.

Na penumbra das horas
vagas formas deságuam
de meus olhos sem estrelas
e seguem o rastro das gaivotas.

Procuro a voz no silêncio: presa,
ensaio um canto obscuro
pra que a brisa retorne com seu eco,
mas o som que volta é oco, é pouco.


Basilina Pereira

terça-feira, 28 de agosto de 2012

CONVERSA COM O MAR









Sentada na areia
 curvo-me sobre minha própria concha
enquanto nuvens cobrem meu rosto
e o ar magnetiza meus olhos e minha mente.
Meus pensamentos têm nuances de ilusionismo
que confundem a pouca lucidez.
Minha voz, tímida diante das ondas,
pergunta, num sussurro, onde foi parar a canção
que meu peito lançava aos quatro ventos
nas cálidas manhãs de verão, entoando versos
da mais plena afinação?
Tenho medo da resposta,
de que ela venha como um maremoto
e me impeça de sentir o balanço das ondas
afagando o pouco de fantasia que restou
 daqueles antigos olhos de promessa
que um dia inundaram meu coração.
Insisto em perguntar ao mar
se nos lugares por onde andou
acaso ouviu aquelas notas no ar?
E o que ouço é meu próprio silêncio,
sinto aquele cheiro de mistério,
envolto  em noites e maresias
 e um sabor enigmático na garganta,
resquício daqueles beijos
até hoje emoldurados na saudade.
Sob meus pés indecisos, só as espumas
cumprem o seu ritual de ir e vir.


Basilina Pereira

FAGULHA

FAGULHA











Não sei por que me ocorre
lembrar, de repente,
de um olhar tão forte
que cruzou meu caminho.
Fagulha na força do silêncio.
Um abismo ali se fez
e nenhuma palavra caberia
naquele momento.
 Nem agora, na lembrança.

Basilina Pereira

sábado, 25 de agosto de 2012

O ABRAÇO

O ABRAÇO

Trave o momento.
Ele é um só,
é único.
Tranque com trinco, com tranca,
prolongue o abraço ao máximo
e guarde essa emoção,
ela poderá não voltar.


Basilina Pereira
ESCOLHAS

São tantos caminhos!
uns floridos, em outros espinhos
e a incerteza a uivar diante de minha janela,
onde olhos esfumaçados chamuscam as fendas
da minha inquietação.
E há ainda as oferendas,
aquelas que prometem fortunas, louros,
como se fosse fácil encontrar tesouros
ao longo de escadas tortas e assombradas.
Quero conselhos, mas conselhos não há,
quero respostas, certezas, será?
São tantos caminhos e eu sou um só.
Minhas dúvidas rasgam o espelho sem dó
e a esfinge se apresenta à minha frente
em forma de opções, suplício latente,
escolhas que não posso mais adiar,
devo abrir a porta (supostamente) certa e passar.

Basilina Pereira
 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CALHAS

Diversas batalhas
escorrem nas calhas,
fazendo da luta
ignóbil conduta.

Afoitos guerreiros
pra serem os primeiros
 avançam o limite
em mísero palpite.

Batalhas honestas
medidas nas frestas
de antigos valores
viraram favores

e o circo prossegue,
embora alguém negue
que a vergonha acabou
e a corrupção grassou.

Não há CPI
no palco ou aqui
que vá devolver
a fé no poder.


Basilina Pereira

 
INSPIRAÇÃO

Hoje o dia me levou a inspiração.
Cá no meu canto, calado,
procuro a cor no horizonte
e os grilos em sua cantoria
vêm me lembrar
que sem tinta
não se pode pintar.
É preciso a lágrima
pra lavar os dissabores de ontem
e preparar os olhos
para o sorriso da alma.
Sei que ele está em algum lugar, latente,
como a semente embutida na flor
e, a qualquer momento, se desdobrará em sombra
para florir canções e primaveras.
As rimas também nascem do silêncio,
aquele colhido em noites de lua
quando as cigarras se quedam mudas
extasiadas de tanto esplendor
e os cães enluarados espreitam, de orelhas em riste,
mas sucumbem ao brilho das estrelas.
Só o meu peito continua travado.
Recordo uma canção antiga
que minha mãe cantava sem alegria
e aguardo que um sopro retorne com o vento da tarde
e traga a notícia de que o verso ainda vive.

Basilina Pereira
 

ARABESCOS

Rabisco meus sonhos dentro do espelho
pra que a memória os resgate
antes que a névoa da noite
os transforme em séculos perdidos.

Lá no alto pedaços de alegria mesclam-se
com lembranças ardentes e perdem-se
entre as muralhas do tempo.

Trago no peito, latente, o desencanto.
Cato estilhaços de um amor sonhado
como quem busca gotas de orvalho
na escuridão.

Lá no alto, uma estrela não diz pra onde vai
ignora que a saudade me sangra em cada olhar.


Basilina Pereira
 

sábado, 11 de agosto de 2012

CONVITE

VEM AÍ MEU NOVO LIVRO, DESTA VEZ UM ROMANCE