quarta-feira, 27 de março de 2013

RANHURAS


RANHURAS

Olho para esta tela desbotada
e me pergunto onde foram parar as cores
que já brilharam ao encanto do sol
em tonalidades soberanas e lúdicas
como qualquer aquarela tropical?
Do tom cobre, resta um leve dourado,
quando os olhos castanhos voltam
de sua jornada reminiscente....
O verde desfez-se na esperança
que,cansada, esmaeceu em saudades.
O azul, o amarelo e o lilás
perderam-se nas vertentes,
sucumbiram-se às ausências,
desfizeram-se em prantos e desencantos.
Hoje tento avivar esses tons pastéis
que o tempo modelou em minha alma.
A tela exibe ranhuras
e há cicatrizes na moldura,
mas resta um suave tom de rosa
resíduo silencioso que restou de uma canção.

Basilina Pereira

POEMETO DO CAMINH


POEMETO DO CAMINHO

Hoje o meu passo foi incerto.
O caminho? Quem disse que era perto?
Nuvens escuras a prenunciar tempestades
e meu coração quer a verdade
livre das chagas de então:
só minha imaginação,
outro risco na memória
e uma nova trajetória.

Basilina Pereira

segunda-feira, 25 de março de 2013

EU SÓ QUERIA DIZER


EU SÓ QUERIA DIZER...

Eu só queria dizer que te amei
e se quiseres saber por quê? não sei.
Não perguntes aos ponteiros do relógio
por que ele gira em maratona sem pódio.
Vendo a noite grudada na parede
bebi teu hálito em frenesi de sede
e contando estrelas até o amanhecer
pintei a vida, o amor que eu queria ter.
Amei-te entre a harmonia e o descompasso
palmilhei cada centímetro deste laço
que prendeu minha afeição: prisão perpétua,
fez meu coração girar como um atleta
enquanto a tarde martelava no vazio...
- Por que resisto a esse sopro tão frio?
Porque o amor, em si, não sabe a hora
de fechar a porta e ir embora.

Basilina Pereira


ORAÇÃO DO POETA


ORAÇÃO DO POETA

Senhor da prosa e do verso,
que este poeta disperso,
possa percorrer o mundo
do céu aos vales profundos,
levando pra toda gente
seu canto vivo e ardente
impregnado de carinho
feito arremate de ninho.
Que sua palavra vibrante
vá além de um só instante
do impacto emocional,
pois ela existe, afinal,
pra bordar o dom da vida,
amenizar as feridas,
com sua mensagem de fogo.
Lembrar que as regras do jogo
são simples questão de escolha,
é o vento esperando a folha.
Senhor da rima (im)perfeita,
eu sei bem: não há receita,
mas acolhe em mansidão
esta súplice oração
que eu possa inverter as cores,
encher a alma de amores,
lavrar o solo infecundo,
levar esperança ao mundo,
vasculhar o chão dormente,
só pra adubar a semente
e espalhar na ventania
todo o encanto da poesia.

Basilina Pereira


EPIGRAMA SEM NEXO



EPIGRAMA SEM NEXO

Levanto todo dia
olho pela janela
e canto
para uma ave perdida.
Ela deverá perceber
que, em cada nota,
exumo a minha paixão.

Basilina Pereira

sábado, 16 de março de 2013

Fênix


FÊNIX

Hoje o cansaço me ronda
quer até me ver assim:
plantando  grumos de fel
para adubar o jardim.

Ele não sabe que a noite
traz junto um mata-borrão,
pra apagar ventos infestos,
a dor, o medo e a traição.

E basta um dedo de lua,
uma janela e um travesseiro
que a fênix renasce, pronta,
vai dezembro... vem janeiro.

Basilina Pereira

OLHA-ME


OLHA-ME

Olha-me pela fresta da luz
que enxergarás um barco à vela
meio tombado
à deriva da esperança.
Olha-me pelo reflexo do espelho
e terás a trajetória do universo
onde as cores não têm fronteiras
e meus olhos desafiam a imensidão.
Olha-me...
por detrás da máscara dos anos
e verás ainda a menina
incrustada na parede do teu coração
de mármore.

Basilina Pereira

sexta-feira, 15 de março de 2013

SONHOS AZUIS


SONHOS AZUIS

Anoiteço em pensamentos.
Ouço o barulho incansável das horas
em sua tediosa trajetória
onde o fim da linha é sempre o ponto de partida.
Rejeito esse paradigma linear.
Quero dormir no balanço das ondas
e me cobrir com o brilho das estrelas.
Minha alma quer sonhos azuis com barbatanas douradas
e muita, muita amplidão.
No infinito: o voo dos pássaros e eu.

Basilina Pereira

terça-feira, 12 de março de 2013

NOVA ESTAÇÃO


NOVA ESTAÇÃO

Hoje amanheci com o orvalho.
O canto dos pássaros
inundou meus pulmões
e o sol, ainda preguiçoso, sorriu.
Lembrei dos sonhos da noite:
outras instâncias,
pregos cravados no espelho
e na alma.
Abro a janela e me atrevo:
eis que termina o inverno,
pressinto nova estação.

Basilina Pereira

quarta-feira, 6 de março de 2013

POEMETO DA PRAIA


POEMETO DA PRAIA

No ritmo das ondas deixo-me ir.
A areia sustenta meus sonhos
e meus pés,enternecidos,
agradecem.

Basilina Pereira