quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

 

O VELHO TRAPICHE

 

E foi aqui: sob este mesmo céu

que ainda se espelha no lago

que lhe entreguei meu amor.

Pétalas dançavam ao vento,

enquanto nuvens boiavam,

tentando, talvez, nos alertar

para a fragilidade do momento.

As promessas se foram com o vento

e, hoje, apenas o velho trapiche

ainda aguarda aqueles ecos

que nunca acharam o caminho de volta.

Basilina Pereira


sábado, 14 de janeiro de 2023

 


GLACIAL

 

Sinto arrepios quando escrevo.

Parace que as palavras descendem de outra galáxia

e não sei justificar a insegurança sob suas camadas.

O verbo me abre fendas

que não sei fechar com os olhos

e os (pro)nomes sempre ocultam

a beleza camuflada em sua síntese.

Assim passeio por letras e sílabas,

na busca de um ajuste que combine cor e som

e numa madrugada delirante: um pouco de luz

em gotas suaves banhadas de sentimento.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 

QUANDO ACONTECE

 

Nem sempre gostei de poesia.

Cheguei a dizer que detestava certa vez:

(a escola, o poema seco, a nota).

Esqueceram de me mostrar o seu brilho

e, então, pendurei as rimas na parede

(versos também atestam a nossa trajetória).

Mas um dia aqueles sons se desvencilharam do prego

e seus estilhaços impregnaram todo o meu ser.

A partir daí, o sangue passou a correr fora das veias

e qualquer descuido virou motivo

para passear entre as nuvens.


Basilina Pereira