quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A MÚSICA QUE HÁ EM MIM

Não é fácil ser musical.
O canto que hoje tenta nascer
viveu muitos anos encapsulado,
coberto por uma cortina de medos,
 insegurança e conformismo.
Foi difícil romper o lacre e espreitar o outro lado.
E mais ainda atravessar o muro, enfrentar o escuro,
expor as fragilidades e correr o risco de desafinar.
É mais seguro esconder o sentimento que ensaiar uma nota.
Pode ser que a escala busque memória num setembro antigo
e retorne em forma de suspiros
por um amor que tocou o sonho da menina
e a fez ouvir sons de um violino.
É certo que o vento de agosto me sugere “O Viajante”,
acordes de um certo amante que aranhou minha poesia.
Mas mesmo riscada, minha fogueira quis “A Lenha”
e não sei qual foi a senha pra aquele amor desabar.
Ainda assim procuro a música.
Seja ela de vanguarda ou esquecida, popular ou erudita,
basta que mantenha acesa a canção que existe em mim.


Basilina Pereira

O EIXO

O EIXO

Neste mundo aportamos
sem mares, sem caravelas,
nada diz porque chegamos
a este beco de vielas.

E o caminho aí começa
sem manual de instrução
tudo é longe, haja pressa,
correm os pés e as mãos.

Numa aventura tão ampla
o corpo reclama a rede
e a alma, às vezes, descampa
solitária em sua sede.

Uns chegando outros partindo
sem saber como e por quê
e os degraus vamos subindo
pra onde... não sei dizer.

E o segredo assim persiste
além do tempo e da hora
há quem nos campos insiste
e os que partem sem demora.

Cogitam tantos desfechos
dessa viagem sem par
só não decifram o eixo
que faz a roda girar.


BasilIna Pereira