quarta-feira, 5 de novembro de 2025

 


EM RITMO DE DELICADEZA

 

O sabiá me acorda com o sol,

seu canto ecoa só delicadeza,

timbre suave, voz de rouxinol,

na manhã que desfolha com clareza.

 

Abro a janela e a luz cintila em prol

do horizonte repleto de beleza:

em cenário que imita um arrebol

e exibe ao longe o que é delicadeza.

 

Outros pássaros cantam com magia,

entoam uma bela sinfonia

afinada em duetos singulares.

 

O poeta que acorda em mim se encanta,

pensa um verso que traga graça tanta

e possa ornamentar alguns lugares.

 

Basilina Pereira

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

 


A MÁGOA

 

A mágoa é, com certeza, um sentimento

que deriva de grande decepção;

por suposto, o maior cordel de não

se faz noite, sem aura, sem alento.

 

Não depende do grado este senão

para quem a constata em seu lamento,

é algo que se impõe a passo lento

e permanece qual desgosto vão.

 

O tempo até desfaz o tal sufoco

que comprime a sentença bem no oco

e a mantém ali como má lembrança

 

do descaso ou da ofensa que ocorreu.

A vida, é certo: pode bem mais que eu,

por isso outra vereda ela afiança.

 

Basilina Pereira

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 


ONDE ESTÁ A FELICIDADE?

 

A tarde tende a moer meus pensamentos.

Cada rajada de calor abotoa as palavras em seu casulo

e seus significados permanecem obscuros...

Tão obscuros que não consigo definir o barulho da torneira que pinga

nem do vento que mastiga a fumaça e sopra a fuligem,

orquestrando um bailado sem música.

Sozinha com minhas ideias penso na felicidade:

seria ela este silêncio que mastiga minha voz

ou a imagem forasteira da casca que exibe os pomos,

mas esconde o sumo da alma...

aquela centelha de verdade que pouco se mostra?

Olho para o céu e vejo pássaros na fluidez das nuvens:

eles também me olham e vão se desfazendo... aos poucos...

Quando menos espero, já se transformaram em coelhos

ou figuras abstratas que mais lembram uma obra de Kandinsky.

Volto a pensar na felicidade.

O que seria mesmo esse estado de plenitude,

em que o sofrimento não teria pouso?

Fecho os olhos e desenho um lugar na mente,

mas ele não segura as cores...

... as formas vão aos poucos entortando

e alguns borrões crescem sobre a minha tela.

Confusa, agarro o momento... só ele é real.

É! Acho que a felicidade virá, talvez, no próximo poema.

 

Basilina Pereira

 

 

 

 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

 

O VELHO TRAPICHE

 

E foi aqui: sob este mesmo céu

que ainda se espelha no lago

que lhe entreguei meu amor.

Pétalas dançavam ao vento,

enquanto nuvens boiavam,

tentando, talvez, nos alertar

para a fragilidade do momento.

As promessas se foram com o vento

e, hoje, apenas o velho trapiche

ainda aguarda aqueles ecos

que nunca acharam o caminho de volta.

Basilina Pereira


sábado, 14 de janeiro de 2023

 


GLACIAL

 

Sinto arrepios quando escrevo.

Parace que as palavras descendem de outra galáxia

e não sei justificar a insegurança sob suas camadas.

O verbo me abre fendas

que não sei fechar com os olhos

e os (pro)nomes sempre ocultam

a beleza camuflada em sua síntese.

Assim passeio por letras e sílabas,

na busca de um ajuste que combine cor e som

e numa madrugada delirante: um pouco de luz

em gotas suaves banhadas de sentimento.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 

QUANDO ACONTECE

 

Nem sempre gostei de poesia.

Cheguei a dizer que detestava certa vez:

(a escola, o poema seco, a nota).

Esqueceram de me mostrar o seu brilho

e, então, pendurei as rimas na parede

(versos também atestam a nossa trajetória).

Mas um dia aqueles sons se desvencilharam do prego

e seus estilhaços impregnaram todo o meu ser.

A partir daí, o sangue passou a correr fora das veias

e qualquer descuido virou motivo

para passear entre as nuvens.


Basilina Pereira


 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 


SOBRE O REI PÉLÉ

 

Eu nem gosto de futebol, a não ser em copas do mundo. Prefiro outros esportes, com pontuações mais imediatas, como o vôlei e o basquete ou os mais ornamentais, como a ginástica rítmicas, os saltos em piscinas e os esportes na neve.

Contudo, Pelé é um caso à parte. Senti a sua partida e emocionei-me ao ver sua trajetória. Parte dela, eu já conhecia, pois lembro-me da copa do mundo de 58, quando eu estudava interna no colégio Santa Teresa, em Ituiutaba-MG, e tivemos acesso a um radinho de pilha para ouvirmos a partida final do torneio. Assim foi também em 62. A copa de 70 já pude assistir pela televisão e constatei, então que Pelé era sinônimo de gol de tanto ouvir Gooooooooool do Pelé!

Agora, com sua partida deste plano, fica o legado de um atleta único, que encantou o mundo com seu talento e fez a diferença aqui na terra. E mais: cultivou a humildade, a simplicidade e levou o nome do Brasil para muito além-fronteiras. Constatei isso, certa vez, visitando um museu da Europa (agora não me lembro qual) e com o que me deparo? Com um molde dos pés de Pelé.

Acho que é isso: um homem, com possíveis defeitos (quem não os tem?), que fez o seu melhor e nos encheu de orgulho, foi exemplo de garra e determinação, deixou o mundo mais bonito, com seu talento esportivo, sem pedir nada em troca. Ele quis apenas oportunidade e espaço para exercer o seu dom, viver o seu sonho e doar...o quê? Sua vida, suas conquistas, que de alguma forma se tornaram nossas também.

Sim, Pelé será sempre nosso! Nosso orgulho de sermos brasileiros e de termos tantos talentos únicos, capazes de encantar tanta gente. Fica aqui o meu respeito e minha admiração!

Basilina Pereira