ONDE ESTÁ A FELICIDADE?
A tarde tende a moer meus pensamentos.
Cada rajada de calor abotoa as palavras em seu casulo
e seus significados permanecem obscuros...
Tão obscuros que não consigo definir o barulho da torneira que
pinga
nem do vento que mastiga a fumaça e sopra a fuligem,
orquestrando um bailado sem música.
Sozinha com minhas ideias penso na felicidade:
seria ela este silêncio que mastiga minha voz
ou a imagem forasteira da casca que exibe os pomos,
mas esconde o sumo da alma...
aquela centelha de verdade que pouco se mostra?
Olho para o céu e vejo pássaros na fluidez das nuvens:
eles também me olham e vão se desfazendo... aos poucos...
Quando menos espero, já se transformaram em coelhos
ou figuras abstratas que mais lembram uma obra de Kandinsky.
Volto a pensar na felicidade.
O que seria mesmo esse estado de plenitude,
em que o sofrimento não teria pouso?
Fecho os olhos e desenho um lugar na mente,
mas ele não segura as cores...
... as formas vão aos poucos entortando
e alguns borrões crescem sobre a minha tela.
Confusa, agarro o momento... só ele é real.
É! Acho que a felicidade virá, talvez, no próximo poema.
Basilina Pereira