segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 


ONDE ESTÁ A FELICIDADE?

 

A tarde tende a moer meus pensamentos.

Cada rajada de calor abotoa as palavras em seu casulo

e seus significados permanecem obscuros...

Tão obscuros que não consigo definir o barulho da torneira que pinga

nem do vento que mastiga a fumaça e sopra a fuligem,

orquestrando um bailado sem música.

Sozinha com minhas ideias penso na felicidade:

seria ela este silêncio que mastiga minha voz

ou a imagem forasteira da casca que exibe os pomos,

mas esconde o sumo da alma...

aquela centelha de verdade que pouco se mostra?

Olho para o céu e vejo pássaros na fluidez das nuvens:

eles também me olham e vão se desfazendo... aos poucos...

Quando menos espero, já se transformaram em coelhos

ou figuras abstratas que mais lembram uma obra de Kandinsky.

Volto a pensar na felicidade.

O que seria mesmo esse estado de plenitude,

em que o sofrimento não teria pouso?

Fecho os olhos e desenho um lugar na mente,

mas ele não segura as cores...

... as formas vão aos poucos entortando

e alguns borrões crescem sobre a minha tela.

Confusa, agarro o momento... só ele é real.

É! Acho que a felicidade virá, talvez, no próximo poema.

 

Basilina Pereira

 

 

 

 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

 

O VELHO TRAPICHE

 

E foi aqui: sob este mesmo céu

que ainda se espelha no lago

que lhe entreguei meu amor.

Pétalas dançavam ao vento,

enquanto nuvens boiavam,

tentando, talvez, nos alertar

para a fragilidade do momento.

As promessas se foram com o vento

e, hoje, apenas o velho trapiche

ainda aguarda aqueles ecos

que nunca acharam o caminho de volta.

Basilina Pereira


sábado, 14 de janeiro de 2023

 


GLACIAL

 

Sinto arrepios quando escrevo.

Parace que as palavras descendem de outra galáxia

e não sei justificar a insegurança sob suas camadas.

O verbo me abre fendas

que não sei fechar com os olhos

e os (pro)nomes sempre ocultam

a beleza camuflada em sua síntese.

Assim passeio por letras e sílabas,

na busca de um ajuste que combine cor e som

e numa madrugada delirante: um pouco de luz

em gotas suaves banhadas de sentimento.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 

QUANDO ACONTECE

 

Nem sempre gostei de poesia.

Cheguei a dizer que detestava certa vez:

(a escola, o poema seco, a nota).

Esqueceram de me mostrar o seu brilho

e, então, pendurei as rimas na parede

(versos também atestam a nossa trajetória).

Mas um dia aqueles sons se desvencilharam do prego

e seus estilhaços impregnaram todo o meu ser.

A partir daí, o sangue passou a correr fora das veias

e qualquer descuido virou motivo

para passear entre as nuvens.


Basilina Pereira


 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 


SOBRE O REI PÉLÉ

 

Eu nem gosto de futebol, a não ser em copas do mundo. Prefiro outros esportes, com pontuações mais imediatas, como o vôlei e o basquete ou os mais ornamentais, como a ginástica rítmicas, os saltos em piscinas e os esportes na neve.

Contudo, Pelé é um caso à parte. Senti a sua partida e emocionei-me ao ver sua trajetória. Parte dela, eu já conhecia, pois lembro-me da copa do mundo de 58, quando eu estudava interna no colégio Santa Teresa, em Ituiutaba-MG, e tivemos acesso a um radinho de pilha para ouvirmos a partida final do torneio. Assim foi também em 62. A copa de 70 já pude assistir pela televisão e constatei, então que Pelé era sinônimo de gol de tanto ouvir Gooooooooool do Pelé!

Agora, com sua partida deste plano, fica o legado de um atleta único, que encantou o mundo com seu talento e fez a diferença aqui na terra. E mais: cultivou a humildade, a simplicidade e levou o nome do Brasil para muito além-fronteiras. Constatei isso, certa vez, visitando um museu da Europa (agora não me lembro qual) e com o que me deparo? Com um molde dos pés de Pelé.

Acho que é isso: um homem, com possíveis defeitos (quem não os tem?), que fez o seu melhor e nos encheu de orgulho, foi exemplo de garra e determinação, deixou o mundo mais bonito, com seu talento esportivo, sem pedir nada em troca. Ele quis apenas oportunidade e espaço para exercer o seu dom, viver o seu sonho e doar...o quê? Sua vida, suas conquistas, que de alguma forma se tornaram nossas também.

Sim, Pelé será sempre nosso! Nosso orgulho de sermos brasileiros e de termos tantos talentos únicos, capazes de encantar tanta gente. Fica aqui o meu respeito e minha admiração!

Basilina Pereira

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

 


ÀS VÉSPERAS DO NATAL

 

Mergulho em uma noite de dezembro,

talvez em busca, sim, do que me lembro

daquele tempo simples de criança

em que floria farta uma esperança.

 

Ela, a esperança, eu via em cada membro,

germinando quais flores de setembro,

Natal era sinal de comilança,

presentes, alegria e só bonança.

 

Hoje percebo muitas diferenças:

punhais acesos brilham sobre as mesas

e enterram as estrelas sob os pés.

 

Tolerância, perdão e bem-querenças

são palavras abstratas, indefesas,

mas precisam suster quem sou...quem és.

 

Basilina Pereira

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

 

ITINERÁRIO

 

Adoro coser as nuvens,

uni-las aos desenhos que salpicam nos telhados,

na grama do jardim

e depois exibir, em perfeição,

o tapete que minha mente vai construindo sem pensar.

No escuro da noite, não há distâncias

e as diferenças não são notadas

por olhos que comem canudos de espinho

e querem devolver folhas secas em pleno verão.

Em noites de estrelas, recolho silêncios;

cuido para que se mantenham na segurança do abrigo,

esqueço as lágrimas e as despedidas.

Se meu tapete resistir aos raios da aurora

é porque avancei um passo

e o dia estará salvo para receber as cores.

Basilina Pereira