domingo, 29 de novembro de 2015

ENTRE SETAS



ENTRE SETAS


Volta e meia a ideia de amor.
Somente para não esquecer
aquele gosto de estrelas sob a língua
e o cheiro de crepúsculo entre os dedos.
Estranho amor:
Um vidro de loção pelo meio
(e que nunca vai acabar).
O dia era perfeito,
o ar cintilante como os olhos
e o meu jardim pronto para o mel.
Ninguém falou da poeira amarga
nem da fragilidade do sorriso.

Basilina Pereira

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A PROCURA



A PROCURA


Procuro uma estrela
de asa encantada.
Quero saber
se seu brilho acende o deserto
quando o sol,
envolto em brumas,
é apenas uma palavra incandescente.
Procuro uma estrela
que, mesmo apagada,
nunca se esquece do que sempre foi.
E onde a vista não atina em nada
pode ser que ela aponte
para tudo o que procuro.

Basilina Pereira


terça-feira, 24 de novembro de 2015

IGUAL ÀS FLORES



IGUAL ÀS FLORES

Eu queria ser igual às flores
que, além de exalar perfume,
pintam de cor os jardins,
perfazem a saga do mel
e, mesmo depois da queda,
enfeitam o chão do caminho.
Eu queria, sim, ser igual às flores.
Despertar com a alvorada,
quando o homem ainda dorme
e, em essência, é um menino.
Adormecer com o poente,
quando a vida se recolhe:
silêncio e dever cumprido.
Ninguém ataca seu igual,
nem se esconde na mentira.
Vazio? Só de maldade,
ao outro o melhor de mim.

Basilina Pereira

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

PODE SER




PODE SER


Em tarde de chuva planto estrelas.
Invoco uma faísca de crepúsculo
e espero.
A memória escorre pelo sangue
e dissolve qualquer espécie de mágoa.
Quando o sol acordar a manhã,
Pode ser que brotem poesias.
Pode ser...

Basilina Pereira


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

REIVINDICAÇÃO



REIVINDICAÇÃO
I
A tarde não se desprende do azul
o verso permanece acordado,
rendido à inquietude do poema.
II
Vozes dançam no vácuo
interesses correm atrás de palavras
pernas se entrelaçam
no emaranhado das ruas.
III
Os meses contam seus dias
transformam todos em horas
que vão semeando manchetes:
ora matutinas, ora vespertinas.
IV
De rebate em rebate
enchem-se as prateleiras
com atentados, guerras, escândalos...
V
Sem abrir mão de sua essência,
a poesia quer seu lugar
entre os números e a notícia do jornal.

Basilina Pereira